Desglobalização, descentralização econômica e descentralização social (3/3)
Finalmente chegamos à última parte dessa série de três textos. Nos últimos dois (primeiro & segundo) fizemos uma breve análise de uma economia centralizada e uma retomada histórica como exemplo de nossa dependência dos grandes produtores e empreiteiros para a manutenção da economia nacional.
Nessa última parte, vamos finalizar com uma explicação um pouco mais detalhada do funcionamento de uma economia descentralizada, iniciando com o processo de transição para ela e terminando com suas consequências políticas e sociais.
Retomando a historinha do leite de soja, após eu ser entrevistado pelo programa de TV e a ideia de plantar soja em casa se espalha pelo país, outras pessoas começam a produzir bens de consumo em suas próprias casas. No bairro X, temos uma família que planta trigo, outra que planta milho, um criador de galinhas, vacas e uma padeira. Vejam que essas pessoas formaram entre si um ciclo produtivo, que termina na fabricação de pães.
É exatamente assim que ocorrerá a transição de uma economia centralizada para uma descentralizada, com uma ideia sendo executada por um pequeno número de pessoas, e, quando ela é bem sucedida, outras pessoas entrarão no esquema. É a mesma coisa que vemos acontecendo com o Bitcoin. Ele começou pequeno e incerto, ninguém podia prever seu futuro, mas um pequeno grupo cheio de fé investiu na ideia, e hoje vemos no que se tornou e no que irá se tornar, uma revolução não só financeira como também ideológica e social.
E o que ocorrerá com os latifundiários? Aos poucos, perderão seu poder. Vejam que para isso acontecer, é necessária não só um investimento pessoal dos novos pequenos produtores, mas também cultural. Estamos acostumados a comprar marcas famosas nos grandes supermercados por serem mais baratas, até mesmo produtos piratas, porque queremos sempre uma vantagem, sempre movidos por uma falsa sensação de que saímos ganhando. Mas em verdade vos digo, não há vantagem real em comprar tais produtos e mantê-los egemônicos no mercado.
Quando tal mudança de mentalidade acontecer, iremos preferir o leite de soja do nosso vizinho, por termos uma consciência e um desejo legítimo de crescer enquanto comunidade, não estou falando de "consciência coletiva", mas sim de uma consciência individual, eu utilizo minha liberdade de escolha em prol de mim mesmo, mas sabendo que para isso terei que fazer um leve sacrifício, de talvez comprar um produto um pouco mais caro, e assim fazer, como consequência, o bem para mim e para toda a comunidade na qual estou inserido. Tratamos aqui de uma espécia de "individualismo empático", pois assim como eu quero que comprem meus tomates, vou comprar o leite do vizinho, e assim criamos riqueza.
Então, no decorrer desse processo, restará aos grandes detentores dos meios de produção alterar sua estratégia para manter sua fatia de mercado ou ir à falência. O meio mais usado hoje é através de legislações reguladoras do mercado, que criam uma barreira à entrada de novos concorrentes, por exemplo, alvarás e impostos sobre vendas. Mas, como agora a sociedade viu que produzir de forma descentralizada é algo bom para todos, e como criamos uma consciência de responsabilidade, não iremos permitir que o Estado efetive medidas para proteger corporativistas ineficientes. Já vemos isso acontecer, de forma incrivelmente tímida, quando o povo sai à rua apoiar a Lava Jato (falando em termos de Brasil) ou a prisão de políticos corruptos. A partir do momento que a participação popular se tornar séria e constante, os meios democráticos não poderão ser usados para a manutenção do status quo dos grandes produtores.
Agora que mudamos a mentalidade e a economia, vamos dar o golpe final na economia centralizada. Como dito na segunda parte, se dependemos das exportações para manter a roda da economia girando, e por qualquer motivo que seja não damos vazão à produção, temos uma crise. Digamos que tudo o que foi dito até aqui do processo de transição aconteceu, mas ainda não se enraizou como o novo padrão social. Como nas economias centralizadas as crises são cíclicas, devido não só a centralidade, mas também a intervenção estatal na economia, uma delas começa a se manifestar, e os grandes produtores interrompem uma série de investimentos, realizam demissões e descem os preços, ja que a oferta esta maior que a demanda.
Vendo esse cenário, muitos que ainda não fazem parte da produção em pequena escala buscam esse mercado descentralizado como uma fonte de renda alternativa, para fugir da crise. Fazendo isso, essas pessoas criam uma demanda constante por outros bens, demanda essa que será atendida por outros pequenos produtores, cuja demanda se tornará contínua, uma vez que seus consumidores são produtores de produtos que você também necessita.
E assim respondemos a pergunta que ficou em aberto esse tempo todo: Porque, em uma sociedade descentralizada, existe uma blindagem natural contra crises econômicas e abusos estatais? Por que não só temos uma mudança de mentalidade, uma consciência social e uma responsabilidade individual, como também a criação de uma demanda contínua e uma integração dos indivíduos produtores, uma vez que eu preciso dos seus produtos e você precisa dos meus, pois não temos mais uma única entidade que fornece tudo.
Depois de tudo isso, vemos por fim o motivo das imagens de Minecraft. O jogo é um exemplo perfeito de como podemos criar riqueza a partir do nada, usando do nosso trabalho e liberdade, bastando a iniciativa e a força de vontade para fazê-lo, é um exemplo também da propria sociedade descentralizada, onde não há um poder centralizado que comanda e controla as atividades individuais.
E como mensagem final, fica o exemplo da água, que assim como a sociedade, sempre encontra, por si só, os caminhos para superar as barreiras e divergências que aparecem pelo caminho
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