O ensaio é um caminho pautado na percepção da experiência. Trata-se da implicação de uma dada subjetividade na relação com a vida, “não se trata de medir o que há, mas medir-se com o que há, de experimentar seus limites, de inventar suas possibilidades” (LARROSA, 2004, p. 37). Nesse sentido, o ensaio propõe um tipo de “rebeldia” em relação ao saber finalizado, definitivo, adquirido com instrumentos que apontam categoricamente para verdades que estão para além da experiência. Sob esse aspecto “a verdade do ensaísta não é algo exterior, mas algo que a própria vida faz” (LARROSA, 2004, p. 37).
Adorno (2003) esclarece que o ensaio não é uma forma de expressão totalmente livre, desprovido de lógica ou rigor do pensamento, segundo o autor:
O ensaio não se encontra em uma simples oposição ao pensamento discursivo. Ele não é desprovido de lógica [...]. Só que o ensaio desenvolve os pensamentos de um modo diferente da lógica discursiva [...]. O ensaio coordena os elementos em vez de subordiná-los (ADORNO, 2003, p. 43).
Na percepção de Machado (2008) o ensaio enquanto forma de investigação especulativa, rigorosa e racional, se encontra no terreno da abdução, onde é possível sugerir, no rigor do pensamento, que alguma coisa pode ser. Assim defende a autora:
Se o contexto da investigação apresenta á própria descoberta por meio de um conjunto de interpretações, de probabilidades, de perguntas, de respostas desencadeadoras de novas perguntas, encontraremos no ensaio a forma aberta à expressão abdutiva de toda descoberta, capaz de acolher os pontos de vista e redirecionar posicionamentos (MACHADO, 2008, p. 64).
Seguindo em uma direção parecida, Adorno (2003) entende o ensaio como um tipo de superação sistêmica, onde é desejável uma lógica capaz de “[...] conferir à linguagem falada algo que ela perdeu sob o domínio da lógica discursiva, uma lógica que, entretanto, não pode simplesmente ser posta de lado, mas sim deve ser superada em astúcia no interior de suas próprias formas” (p. 43). Larrosa (2004) ao propor como Foucault aborda a questão do ensaio, sinaliza que este é entendido como forma de expressão que se constitui:
[...] considerando a questão do presente (o ensaio como um pensamento no presente e para o presente); a questão da autoria (o ensaio como um pensamento na primeira pessoa); a questão da crítica (o ensaio como um pensamento que parte de um distanciamento crítico) e a questão da escrita (o ensaio como um pensamento consciente da sua própria condição de escrita) (LARROSA, 2004, p. 27).
Tanto Larrosa (2004), Adorno (2003), Machado (2008), cada um ao seu modo, sugerem que o ensaio se trata duma forma dinâmica de organização do pensamento, capaz de promover uma investigação coerente e rigorosa, tendo como ponto de partida a experiência vivida, permitindo sugerir que alguma coisa pode ser.
Para entender melhor sobre como escrever um ensaio científico acesse o PDF em: https://drive.google.com/drive/folders/14xnmee-bDYIhNv5_qdQSnpfnfQNI2vno?usp=sharing
REFERÊNCIAS
ADORNO, Theodor. O ensaio como forma. In: Notas de literatura I. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2003. p. 15-45.
MACHADO, Irene. Controvérsias sobre a cientificidade da linguagem. Líbero, São Paulo, n. 22, p.63-74, dez. 2008.
LARROSA, Jorge. A operação ensaio: Sobre o ensaiar e o ensaiar-se no pensamento, na escrita e na vida. Revista Educação e Realidade, jan/jun 2004.
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