O filme - Hotel Ruanda (2004) -, do diretor Terry George, busca retratar, da forma mais real e dramática, em aproximadamente 2h35min, o genocídio que houve no país em 1994, quando as etnias hutu e tutsi entraram em conflito.
A história é contada por meio da vivência de Paul Rusesabagina, gerente do Hotel de Mille Collines, interpretado pelo ator norte-americano - Donald Cheadle -, salvador de muitos ruandeses.
Ruanda é um país localizado na parte central do continente Africano e possui aproximadamente 11,6 milhões de habitantes. É um país pequeno e mais um típico exemplo das divisões e repartimentos feitos pelos colonizadores no continente.
As línguas oficiais são: Kinyarwanda, francês e inglês; Ruanda faz parte do grupo da Francofonia, composto por países que falam o Francês e buscam manter, aprimorar e espalhar esta cultura linguística.
Abrindo fogo
O conflito se inicia no momento em que o então presidente do país - Major General Juvénal Habyarimana - e o Presidente da República de Burundi, Cyprien Ntaryamira, foram mortos em um atentado ao avião em que estavam e pousava na capital de Ruanda, Kigali, no dia 6 de abril de 1994, após assinarem um tratado de paz.
A guerra foi ferrenha e os militares ligados ao governo abriram fogo matando cerca de 800 mil tutsis e hutus que eram a oposição ao governo. As etnias também entraram em conflito, com a maioria hutu sendo carrasca dos 15% de tutsis do país.
Em três meses quase um milhão de pessoas foram mortas; a violência foi contida pelo exército tutsi comandando pelo atual presidente Paul Kagame.
O papel salvador de Paul Rusesabagina e o filme
Rusesabagina, tenta proteger sua família e seus vizinhos que lhe pediriam abrigo no primeiro dia de conflito, fazendo do hotel em que trabalha como gerente, o Mille Collines, um local de refúgio para a população.
Pensando estar a salvo com a escolta do exército americano devido aos estrangeiros que ainda estavam no local, a trama sofre uma reviravolta quando os mesmos são retirados.
A situação era comemorada por todos, mas aquele dia chuvoso não poderia ser pior. Paul e os ruandeses, refugiadas no hotel, imaginando também ser resgatados, amargaram a triste cena. Só os estrangeiros tiverem este privilegio.
A verdade é descoberta pelo Coronel Oliver da Organização das Nações Unidas (ONU), interpretado pelo ator norte-americano - Nick Nolte – em representação ao tenente-general - Roméo Antonius Dallaire.
Desolado e cabisbaixo, sentado ao bar, tem uma bebida oferecida por Paul e desabafa com palavras raivosas e tristonhas:
- Você devia cuspir na minha cara, Paul.
Rusesabagina estava animado e seu semblante muda complemente. Agora estavam os dois desolados, continuariam sofrendo em busca de uma nova saída.
Paul se desdobrou na tentativa de manter o local intacto; fez diversos acordos e poucos foram produtivos. Toda via com o General Bizimungu, representado pelo ator sul-africano - Fana Mokoena -, ele pode abrigar famílias e ajudá-las.
De modo corajoso, Rusesabagina (hutu de esposa tutsi) protegeu no hotel cerca de 1.200 pessoas; tendo abrigado importantes figuras de Ruanda, como empresários e políticos e estrangeiros.
Paul teve um breve respiro sombrio quando uma tentativa de tirar algumas pessoas do hotel quase acabou com sua família levada a Tanzânia com a ajuda da ONU, que ainda atua no país e do exército tutsi.
Os ruandeses salvos graças a Paul estavam ‘livres’, refugiados em outros países. No fim das contas, em todas as manobras que fez para defender sua família, Paul, salvou sua alma: apesar de tudo, ainda acreditava na paz.
20 anos depois
No documentário esportivo do ano de 2013 - Futebol Clube Ruanda (FC Rwanda) -, do diretor holandês Joris Postema, exibido pelo canal SporTV e com estreia no Brasil em 2014, podemos analisar, em 57 minutos, uma face do país que mesmo mais unido pelo esporte, ainda segue repreendido.
Buscando imergir e retratar em uma breve análise à face atual do país, o documentário utiliza as armas do futebol para tornar o enredo cada vez mais dramático.
Vinte anos pós genocídio, Ruanda possui 98% da população em apoio ao governo e considerando-se cidadão ruandês. O principal foco da trama é o clássico do esporte em Ruanda que ainda divide a população.
O time representante dos militares, de torcida tutsi e o time representante do povo, de apoio hutu. As culturas e etnias são divididas e podemos perceber que Ruanda ainda não vive em paz, tendo o futebol como principal modo de mostrar que isso é real.
“Não se fala mais em certo ou errado, quem matou e quem foi morto, as pessoas são forçadas a reconciliarem, é como se não fosse de verdade, como se fosse orquestrado, como o objetivo de agradar o governo local”, diz o jornalista e filosofo ruandês, Daniel Sabiiti.
A repressão ainda vive e o governo atual visa manter a paz; tarefa difícil, devido a rivalidade das etnias. A população, possui apenas o futebol como único conflito e segue sem debater sua etnia ou suas raízes por medo.
O momento que vive Ruanda é marca do comando de Kagame, que passa aos ruandeses a imagem de ser um povo só, não entrando em deméritos de ganhadores ou culpados, porém a divisão dos ruandeses se deve ao apoio aos militares pelos tutsi que agora são a minoria forte, virando o jogo, que está quase para explodir.
Novo genocídio?
Em entrevista dada ao UOL em 2014 (vinte anos após o conflito), Rusesabagina disse que é possível acontecer um novo genocídio em Ruanda, mas desta vez de modo invertido, agora com os tutsis no poder, se vive a mesma vingança que, mesmo com a repressão do governo e o discurso de paz, pode se alamar uma outra guerra civil. Ruanda ainda vive traços de rebeldia e pede paz.
Paul ainda vive repressões por parte dos governantes ruandeses e já sofreu alguns atentados. Atualmente ele vive na Bélgica e seus filhos mais novos estudam nos Estados Unidos.
Podemos sentir que o sofrimento ainda vive, junto ao medo e as esperanças por paz. Seu semblante é de tranquilidade, seus problemas agora são muito menores que a situação de sua terra natal.
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