(publicado originalmente no blog Asimovia, em 02/04/2015. texto com sutis correções)
E agora, depois de uns dias sem entreter meus leitores, volto com aquela vontade eterna de polemizar. Afinal, como diz Dr. House, "se você não incomoda ninguém, o que há de errado contigo?"
Acho que o título do post acabou sendo spoiler, mas vamos ao ponto. Sou favorável a liberação total, completa e irrestrita de todas as drogas para pessoas maiores de idade. Como sou favorável à redução da maioridade penal, vale para os novos maiores obviamente. Mas tratarei disso outro dia, para compartimentalizar um pouco as coisas.
Ao contrário de outros temas, como aborto e pena de morte, este posicionamento é incrivelmente recente para mim. Sou um sujeito pró-escolha desde os 12 anos, acho. Pena de morte um pouco antes. Mas a questão das drogas foi mudando com o passar do tempo, e de muita leitura. Até uns 7 anos atrás eu era um forte opositor, o que derruba qualquer mito de que eu tenha opiniões formadas e totalmente sólidas (para o bem ou para o mal) sobre qualquer assunto.
A base disso vem por dois caminhos distintos, um dos quais tomei conhecimento na época da publicação original deste texto, em 2015. Vamos pelo mais simples primeiro, ou tão simples quanto ele pode ser.
Para começo de conversa, não é novidade que não gosto de intervenções governamentais na vida privada das pessoas. Na verdade, eu não gosto de intervenção alguma. Meu primeiro contato com isso foi ainda criança, acho que aos 8, quando descobri a tal censura. Foi lendo aqueles certificados de autorização que apareciam antes de cada programa da tevê. Sim, alguém lia aquilo. Achei muito esquisito aquilo, e meu pai se enrolou todo para explicar o que era a tal censura (What?!) para um garoto que não sabia o que era Ditadura Militar. Não o culpo. Mas culpei o governo de imediato: era burrice aguda decidir o que as pessoas podem ou não assistir.
Anos depois, achei absurda a proibição do aborto (What?!) desde uns 5 minutos depois de me tornar favorável ao direito de escolha. Ok, essa foi rápida e relativamente prematura. Mas não cabe ao governo entrar na minha casa e dizer se minha esposa pode ou não abortar: cabe ao governo construir escolas, hospitais, infraestrutura econômica, proteger os cidadãos e regulamentar a economia. Só.
Por analogia fiquei pasmo, por volta dos 16, quando descobri que homossexualismo era proibido em muitos lugares e já havia sido proibido em todos os lugares. (What?!) Não sabe ao governo regulamentar quem deita na cama de quem, oras. Ainda podemos listar várias outras coisas estranhas no mundo de hoje, variando de lugar para lugar: religiões obrigatórias (What?!) ou proibidas (What?!), filmes banidos (What?!), livros queimados (What?!), Inquisição (What?!), tortura (What?!) (sim, eu descobri a tal Ditadura Militar) e por aí foi, e ainda vai. E com o tempo cheguei ao tema das drogas.
Assim como não faz sentido o governo entrar na minha casa para escolher o que eu leio, assisto, rezo ou com quem durmo, não faz sentido regular o que eu consumo. Claro que eu quero orientação e indicação: é a tal regulamentação. Mas proibição não aceito. E demorei demais para chegar a esse ponto, devo admitir.
Poxa vida, por que um sujeito pode comer quilos de gordura e me matar por consequência da obesidade ou excesso de colesterol, mas não pode usar cocaína? A diferença química entre cocaína e cafeína, aquela da Coca-Cola e do café, é a apenas a concentração necessária para provocar os mesmos efeitos. Por que uma pode e outra não? Por que tabaco sim e cannabis não (como cantou Rita Lee)? As respostas do tipo "porque vicia", "porque faz mal" e "porque é feio" são igualmente válidas após uma análise racional e livre de paixões ideológicas.
Mais recentemente o amigo Ivan Leal trouxe outra visão disso, pelo lado biolegal da situação.
De acordo com o site cobras.com.br, exitem 36 cobras venenosas no Brasil. A urutu-cruzeiro, por exemplo, tem um veneno que mata em 2h um adulto de 70kg. A jararacussu é menos perigosa pois não chega a matar adultos, mas com crianças ainda é mortal.
Mudando para plantas, fui ao site da Fiocruz. Destaquei duas, que já cansei de ver em jardins por aí. A flor copo-de-leite pode envenenar por ingestão ou contato, mas não chega a ser mortal. Já a incrivelmente popular e feia coroa de cristo tem uma seiva venenosa. Dessa eu lembro bem de um vizinho que se acidentou ao cortar uma em seu próprio jardim e passar umas duas semanas em tratamento para evitar perda de visão. Tipo assim, isso assusta uma criança, entende?
No entanto, nenhum desses quatro seres, dois animais e dois vegetais foram banidos do bioma brasileiro pelo governo. Claramente os efeitos desses quatro envenenamentos são mais danosos do que o consumo de muitas, talvez todas, as drogas hoje proibidas em quase todo o mundo, inclusive no Brasil. Por que? Por que o governo pode banir a cannabis ou a coca em nosso bioma, mas deixa outras muito mais perigosas "a solta" ?
Não amigo leitor, não quero destruir espécies inteiras porque são perigosas. Mas tipo assim, não quero destruir nenhuma delas. Daí o título do post: Libera.
Pois é, ficou longo e não terminei. Há considerações ainda, que deixo para outra oportunidade.
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That´s the original post, as I mentioned.