Sinopse: Em 1973, a polícia texana deu como encerrado o caso de um terrível massacre de 33 pessoas provocado por um homem que usava uma máscara feita de pele humana. Nos anos que se seguiram os policiais foram acusados de fazer uma péssima investigação e de terem matado o cara errado. Só que dessa vez, o único sobrevivente do massacre vai contar em detalhes o que realmente aconteceu na deserta estrada do Texas, quando ele e mais 4 amigos estavam indo visitar o seu avô.
Filmes baseados em fatos reais sempre chamam a atenção do público. Não tem como ignorar o interesse de uma parcela dos telespectadores por essa "gênero" cinematográfico porque é algo que tem um apelo muito popular e que, com certeza, traga a atenção de quem está assistindo para um mergulho dentro de uma história.
Apesar das criações para adequar as necessidades da narrativa ao projeto, o roteiro se beneficia do fato de saber que aquele evento existiu, e com isso consegue criar um plot quase exclusivo para qualquer projeto... Dentro dessa ótica, O Massacre da Serra Elétrica tornou-se um clássico (e não apenas por isso).
Tobe Hooper está a frente da direção de um filme onde a violência brutal é o foco principal da narrativa. Há quem ache que a intensidade dos assassinatos seja desnecessária, mas é justamente através desse argumento sanguinolento que o diretor consegue mostrar toda a loucura que cerca uma gama de personagens com incontáveis problemas psicológicos.
Os takes realistas, os jogos de câmeras bem estratégicos espalhados ao longo dos acontecimentos, a frieza no trato relacionado aos sentimentos humanos e a crueldade física e mental são apenas algumas das estratégias que Hooper manobra com maestria. Tudo funciona (tanto de forma individual, quanto em conjunto) de uma forma melhor do que se espera, mostrando que nenhum dos argumentos na tela estão lá apenas para "fazer figuração".
O roteiro (que também tem a mão do próprio diretor) é - literalmente - fora dos padrões. Existe um aspecto muito visceral nele, que automaticamente o torna em algo que o cinema, até então, nunca havia visto. Sendo assim, a década de 70 foi atormentada por uma história real, cheia de mistérios e toques grotescos com altos requintes de algo maligno que até hoje não consegue sequer ser nomeado de forma apropriada.
Não se trata aqui apenas de personagens com distúrbios de personalidade, trata-se de algo que vai além disso. Talvez até da compreensão humana, porque o mal que reside neles é muito mais complicado do que se pode imaginar ou explicar. Toda a complexidade que os cerca, as caricaturas - ou tentativas mais forçadas - que ajudam a torná-los inesquecíveis (principalmente a questão asquerosa que envolve a "fabricação" da máscara do vilão mor) e também, o ambiente inóspito onde a maior parte do filme acontece, corrobora para a sedimentação de um filme que mistura o terror, o horror e o suspense de forma extremamente eficiente e com uma representatividade enorme para o gênero.
O elenco - pelo menos a maioria dele - é bem regular (alternando entre performances medianas e ruins, principalmente por parte do elenco de amigos), mas o que eles entregam na tela não afeta a qualidade do filme como um todo porque apesar deles serem o alvo principal dos "malucos", ele são elementos acessórios para a trama (ou sejam precisam estar lá... mas não são essenciais). No entanto há um destaque óbvio para Gunnar Hansen, que interpreta o famigerado Leatherface de uma forma propositalmente estranha (por incrível que pareça, isso é ótimo para o personagem) hipnótica e cheia de veracidade e para Marilyn Burns, que apesar de gritar mais do que atuar (haha!) oferece ao público uma performance que beira o histerismo psicótico que o medo extremo desperta nela.
Contando com uma edição seca e cheia de cortes estrategicamente bem pensados (por sinal, isso é um dos maiores acertos do filme, porque essa ideia de "picotar" o filme no lugar certo é justamente o que engrandece o impacto de algumas cenas... principalmente as mais violentas), uma trilha sonora inovadora (e que tem uma áurea tenebrosa em torno dela) e uma fotografia áspera que torna os cenários ainda mais estranhos e chamativos... As questões técnicas se sobressaem de uma forma que merece o devido destaque.
O Massacre da Serra Elétrica quebrou diversos padrões para a sua época de lançamento, criou muito mal estar entre os críticos, foi alvo de muitas proibições ao redor do mundo. Mas acima de tudo isso, é uma das maiores representações do que hoje é conhecido como cinema de horror/terror que tem muitos subgêneros baseados nele... Logo, sem essa abertura de portas que esse clássico gigante do Hooper proporcionou, talvez hoje os fãs que seguem esse estilo de cinema hoje estivesse - de alguma maneira - "órfãos".