Do ouro olímpico ao tri no México, Jardine diz: "Não é fácil um projeto que me faça trocar o que tenho"
Eram dias de calmaria para André Jardine. Após fazer história pelo América do México ao conquistar o tricampeonato nacional, ele escolheu o litoral para relaxar. Primeiro, passou o Natal com parte da família em Santa Catarina. Depois, tinha planos de ir a Cancún, curtir o réveillon em uma praia do Caribe. Neste meio-tempo, o técnico fez uma breve escala em São Paulo, onde atendeu a reportagem do ge por mais de duas horas para o Abre Aspas (assista aos principais trechos no vídeo acima).
De tão relaxado, num raro período sem jogos, Jardine esqueceu de levar calças na bagagem ao Brasil. Quando notou, no dia da gravação na Globo, fez questão de conferir se não havia problema em dar a entrevista de bermuda.
Era 26 de dezembro e o técnico não fazia ideia que a maré iria mudar. Dali a alguns dias ele receberia um telefonema de John Textor, dono da SAF do Botafogo. O convite para assumir o atual campeão brasileiro e da Libertadores agitou aquele mar que até então era calmo.
A decisão de recusar o Botafogo e seguir no América veio mais de uma semana depois da entrevista. Mas ali já era possível entender que tirá-lo do México agora não seria fácil:
– O futebol brasileiro financeiramente tem mais força do que o mexicano, então pela parte financeira não seria um empecilho. O que é difícil é a gente ter hoje no Brasil um projeto que te dê pelo menos a sensação de que vai ser respeitado, de que vai ter início, meio e fim – afirmou.
Foi com esse mesmo pensamento que Jardine deixou a seleção brasileira após o ouro olímpico e aceitou o desafio de assumir o Atlético San Luis, então lanterna do Campeonato Mexicano, em 2022. Ao Abre Aspas, o técnico comenta os rumos de sua carreira e fala sobre a necessidade de explorar novos mercados. E muito, muito mais: da passagem relâmpago no comando do profissional do São Paulo à culinária mexicana; das ideias de jogo e inspirações no futebol à nova turnê do Oasis (ele já foi vocalista de uma banda cover dos ingleses); de Guardiola a Ted Lasso. Confira abaixo a entrevista:
Vamos começar pela pergunta mais óbvia: já comprou ingresso para a turnê do Oasis?
– (Risos) Pior que ainda não, mas com certeza eu vou, a não ser que a gente não esteja no México. É um dos compromissos que eu tenho esse ano aí.
O nome do seu filho, Liam, é uma homenagem ao Liam Gallagher, vocalista do Oasis?
– É uma junção.
De uns tempos para cá muitas pessoas têm usado a expressão futebol rock and roll, principalmente depois do Klopp. Se refere a um jogo muito intenso, ativo. A tua ligação com o rock de certa forma se reflete um pouco no futebol que você acredita e busca para seus times?
– É o (ritmo musical) que eu mais escuto, né? Eu sou uma pessoa que conecta as coisas da vida, as emoções que a gente vai vivendo. Eu conecto muito com a música, sempre tentando que as músicas signifiquem momentos importantes da vida. No futebol são vários e vários, né? Então a música, ela me ajuda muito. É uma certa terapia, né? Em momentos que a gente quer um pouco de paz, ou que a gente quer se motivar, entrar num clima mais de guerra, num clima de competição. Praticamente tem uma trilha sonora pra cada momento aí.
Você acha que o ritmo dos seus times é rock and roll?
– Eu acho que tem um pouco a ver sim. A gente gosta de time intenso, né? Um time que corra por todas, que dispute todas as bolas. Mas também, ao mesmo tempo, um time inteligente, que saiba o que está fazendo. Mas tem, sim, um pouco a ver. Em alguns momentos já usei músicas de rock para motivar os jogadores, com lances da própria equipe.