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Só de escrever esta lista foram ativados no meu cérebro diferentes sentimentos e cenários de um mundo cheio de robôs e óculos de realidade virtual, tudo monitorizado em sistemas centralizados que ciram e configuram um profil digital para cada ser humano.
É uma lista que reflete o alucinante desenvolvimento tecnológico e social dos últimos anos e que é fascinante e em parte animador. Mas estas palavras e os cenários que surgem na minha e talvez vossas mentes, deixam um travo amargo e acionam um desconforto nas minhas entranhas.
Não é só comigo. E quando se fala destes temas e esse desconforto surge, é habitual começar a debater as vantagens e as desvantagens da forma como o mundo está a mudar. No final, alguém remata com um comentário animador ou resignado e encolhe os ombros. Mas o desconforto não desaparece. E acredito que jamais desaparecerá. E porquê? Neste texto quero descrever um dos cenários que poderá ser o nosso futuro e responder a essa pergunta – porquê o desconforto?
O futuro tornou-se presente muito depressa. A ficção científica passou a realidade e de novo a ficção porque parte dos seus conceitos foram ultrapassados. Obviamente os protagonistas do Matrix e Star Trek não ouviram falar de tecnologia nano.
Eu ainda não fiz trinta anos e já me sinto velho e antiquado ao verificar que parte do estilo de vida e do mundo onde gostava de viver já desapareceram e que as crianças que agora crescem já não conhecem esse mundo a que me agarro.
Isso é parte do desconforto que nos causam os contínuos avanços tecnológicos. É a perda do que nos é familiar e afim e a impossibilidade de estar a par da novidades e de as compreender. Como não somos computadores, não podemos simplesmente fazer um update. Ainda não. Estamos num interminável buffering.
Se já é impossível tratar de todos os assuntos do dia a dia, como é que arranjamos tempo para nos informarmos se vale mais a pena confiar nos bancos ou investir as nossas poupanças em cryptocurrency como o Bitcoin? Sim, eu sei, teoricamente todas as novas tecnologias ajudam a fazer as coisas mais rápido. E é verdade. Mas também é verdade que, ainda assim, temos cada vez "menos tempo". O número de horas por dia é o mesmo, mas temos menos segundos para realmente vivermos.
Ontem num jantar, ao conversarmos sobre projeto em que é implantado um chip no cérebro duma pessoa para aprender uma nova língua não encolhemos os ombros a dizer, pois, olha, é assim. Continuámos a debater.
Volto à pergunta. Porquê o desconforto? Porque nos sentimos sobrecarregados. Porque temos medo de não saber o que se está a passar. E depois? Porque é que isso nos causa um desconforto tão parecido ao medo? Ou talvez mesmo medo?
Imaginemos uma utopia futurística, em que a inteligência artificial e os robôs são usados para fazer todas as tarefas árduas e monótomas. Os seres humanos têm mais tempo para outras coisas. Têm acesso a tudo e a todos numa realidade digital. Como o ser humano é mais sábio já não há guerras e em vez de se deitar a comida fora, todos têm que comer e onde viver. Sem pressupor um sistema comunista, no qual todos são "exatamente iguais" e possuiem (ou não) as mesmas coisas, como não há falta de recursos, ninguém tem de se preocupar em sobreviver. As necessidades básicas como a alimentação, moradia, contacto social, acesso ao sistema de saúde, à educação e à internet são garantidos. O resto são extras. Quem quiser, produz arte, quem quiser ensina, quem quiser inventa e contribuí para o desenvolvimento tecnológico (entre outros), etc.
Imagino que também neste mundo, com acesso instantâneo a uma realidade digital, seja impossível ao indivíduo estar a par de tudo o que vai mudando, mesmo das coisas que o rodeiam. Uma pessoa pode nem estar a par da existência de um novo produto (software ou hardware) que a pessoa ao seu lado no metro está a usar. Mas nesse cenário, isso já não me amedronta. Não tanto pelo menos. Em vez disso, a dimensão de possibilidades e áreas a descobrir ganha uma faceta divertida, desperta em mim o explorador, não o velhote que procura âmparo em objetos e conceitos inusitados.
Porquê essa mudança do desconforto e do medo para um outro sentimento mais agradável?
Talvez porque o desconforto que sentimos não seja um produto do futuro e de avanços tecnológicos. Talvez seja um produto do passado e do presente. E palavras como BigData, Google, Bitcoin, palavras que trazem consigo grandes dimensões, apenas ampliem esse desconforto.
Na conversa de ontem à noite falámos do Elon Musk, o visionário por trás da empresa Tesla e uma das personalidades que vem à ideia quando se fala de inteligência artificial. Musk alerta para os perigos da inteligência artificial e fala sobre possíveis cenários que ajudarão o ser humano num mundo onde a inteligência artificial é levada a um novo patamar e revoluciona o mundo e a vida. Ninguém pode prever as consequências de elevar a IA a um novo patamar, porque a partir daí ela superaria os limites cognitivos do ser humano, sendo capaz de aumentar de forma quase ilimitada, a sua capacidade de cálculo. Por isso Musk imagina que no futuro implataremos chips nos nossos cérebros, de forma a aumentarmos as nossas próprias capacidades cognitivas e a quantidade de dados que os nossos neurónios são capazes de processar e armazenar.
Ao jantar falámos disso e vociframos os quatro a mesma pergunta: porquê? Por que raio precisamos disso?
E concordámos que essa falta de uma razão legítima é algo que mesmo hoje em dia nos indigna. Vivemos em função de ganhar dinheiro, de ser produtivos, de estar a par, de acomular capital e bens, de consumir, de morrer a sofrer pela forma como vivemos e de deixar aquilo que sobreviveu ao lar de terceira idade, ao cancro, à demência, ao enterro. Não necessariamente porque não há alternativa. Mas sim porque as regras e mecanismos que regem a nossa sociedade e o nosso estilo de vida não têm como objetivo a felicidade – nem nossa nem de ninguém, diga-se de passagem (porque lucro e poder não são felicidade).
Aliás isso é tão notável que até parece ingénuo pretender que esse fosse o objetivo. Mas tendo em conta que já produzimos o suficiente para garantir a sobrevivência, qual é o sentido de qualquer outro objetivo que não seja a felicidade?
E no entanto, esse é o ponto de partida, o solo no qual germinam e crescem a maioria das inovações tecnológicas. E mesmo as que nascem com propósitos diferentes correm o risco de serem compradas e assimiladas por empresas como a Amazon, a Google, o Facebook.
Deste modo, por mais aparente que seja a constatação que "na vida o que interessa não é a nossa felicidade", é importante, e esse facto é sempre (!) o pano de fundo no qual tudo acontece.
Vivemos num mundo em que tudo o que pode ser feito, é feito. Em que o "porquê" só é pronunciado antecedendo "dinheiro, lucro, produtividade, emprego, segurança nacional, progresso".
Mais uma vez: é simples e não é nada de novo. Mas é perigoso. A intenção é de tremenda importância.
Usando uma metáfora, os nossos meios tecnológicos determinam se vamos a pé, de burro, ou num drone futurístico, mas é o objetivo que determina se nos dirigimos para uma praia ou um pântano.
Não quero contestar que haja uma interação entre meios e fins. A internet e as redes sociais são um meio que torna possível uma mudança de mentalidade e uma reflexão sobre os fins, os objetivos. Sem dúvida. Mas temo que as mudanças que se estão a dar nas sociedade em relação à forma como vemos as coisas e que objetivos queremos atingir possam não acompanhar o ritmo com que a tecnologia avança e que, servindo-se desses avanços, a mentalidade focada no lucro e produtividade, que é o status quo, prevaleça.
Ensino português como língua estrangeira e sou um defensor de que, ao aprender uma língua, a prioridade deve ser a troca de informação (por outras palavras, a intenção), não a forma como a informação é transmitida. A prioridade deve ser o conteúdo, não a gramática. Porque o conteúdo é a única razão pela qual precisamos da língua e da gramática. Numa consideração extrema, se não houver conteúdo, nós abrimos a boca para dizer frases gramaticalmente perfeitas, mas que não querem dizer absolutamente nada e que são despojadas de propósito.
É esse o risco do caminho que percorremos.
Voltando ao Musk e à sua visão do futuro, que não é improvável. (Aparentemente já são feitas experiências com implantes cerebrais desse género, mesmo que se encontrem numa fase inicial).
Imaginemos que daqui a uns anos temos chips no cérebro, que nos permitem conceber mais pensamentos por segundo e torná-los mais complexos, que nos permitem gravar e ter acesso a mais palavras, línguas, imagens. Que nos concedem capacidades telepáticas. Que assim conseguimos usar o Googlemaps e o Google Translater com a mente, sem mover um dedo, sem pestanejar. Que nem precisamos do nosso telemóvel.
Para que usaremos isso?
Toda a gente acha que a vida devia ser mais vivida. Que devíamos "trabalhar" menos e rir mais, sentir mais fascínio e partilhar mais amor.
Pessoalmente, sinto uma grande falta de espiritualidade no quotidiano. De verdadeiramente sentir que habitamos não apenas três dimensões, mas que há outras e que há forças maiores, mais vastas que nós, que não compreendemos. De sentir, acima de tudo, que a experiência do que é viver não pode ser compreendida com o raciocínio e que este não nos fará feliz. Porque o raciocínio não é o objetivo, mas o meio.
Mas nós partimos desse cenário em que os meios são os bens mais prezados e são considerados simultaneamente os fins. Os verdadeiros fins, a felicidade, a paz, a alegria, a sabedoria (em contraposição ao conhecimento) esses, perdem-se. Resumem-se a clichés romantizados e uniformizados em filmes, nos quais as pessoas procuram uma parte insatisfeita da sua natureza.
Partimos pois daqui, adicionando mais e mais meios, para daqui a umas décadas ou uns anos nos fundirmos com máquinas e software, coisas desprovidas de fins; misturando-as com os nossos neurónios, alterando talvez a própria forma como pensamos e o que sentimos.
Se as coisas daqui para a frente correrem assim, então pergunto-me se no fim não seremos literalmente uma máquina. Se o nosso objetivo e motivação são desprovidos daquilo que nos faz sermos seres humanos, e que não é a racionalidade (porque nisso a máquina bate-nos), mas sim a procura da felicidade, e se usamos meios desprovidos de fins, não será que no fim seremos capazes de alcançar esse objetivo e de nos tornarmos, nós próprios, os meios?
Não falo de um cenário em que incarnamos uma forma de escravidão humana de nova geração, repleta de infelicidade, depressão, cancro, alzeihmer, medo, raiva. Não. Trata-se de um cenário onde essas coisas já não ocupam um papel central nas nossas vidas.
Tomando um passo extremo, talvez seja isso que causa um desconforto tremendo quando ouvimos falar de networks, cyborgs, uma indústria automatizada, uma internet monitorizada, eficiência robótica e digital - é a pergunta: será que no fim, não seremos puro racíocinio e eficiência, eliminando a existência da felicidade e infelicidade, exilando as nossas características humanas (sejam elas agradáveis ou inconvenientes), tornando-nos, nós próprios, máquinas que são todas-poderosas no domínio dos meios, mas que não perguntam porquê?
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