no escuro da tempestade,
no silêncio da chuva
um clarão estilhaça o escuro,
céu abaixo cegando a terra.
dois dedos de quietude
um estrondo
que estremece a pele
que alimenta o mundo,
é no temor do cáos
que engolimos a força da vida
a persiana sobe
e pelos buracos, em feixes como navalhas
logo se vertendo como um rio,
a luz trespassa
estagnado de suspiros insatisfeitos, o ar
invade a letargia do espírito
deflagra o dia, a hora,
o universo é este único momento, este único pulsar
uma espada corre a bainha,
corre o ar, liberta
um toro investe
salpica vermelho
o grito na noite,
no cúmulo do prazer
aberto entrando
a fúria que berra pelo momento
embalado numa onda que se ergue, enrola,
desmoronando-se,
mergulha
inunda
um sopro de tarde
sobre o ouro da ceara
uma foice roda
o sol cavalga a lâmina
cega o olho escancarado
a pupila lambida
uma dentada voraz
a carne a espremer
o músculo aperta-se e desaperta-se
solto de raiva
contra o muro, o punho
ossos pela parede a dentro
o que resiste e o que se quebra
em cacos de sangue
na delirante dor, o prazer
um comboio descarrila
desliza pregando a fundo,
de pedal esmagado
vira, empurra-nos.
gritamos, dançamos
em combustão de pólvora,
a faísca que vive
um som a bater
no arfar aflito,
os pulmões dilatados a crescer,
veias que estoiram
ao batimento do coração de volta ao mundo
que se perde de alívio,
por um segundo
revirado