Desglobalização, descentralização econômica e descentralização social (2/3)
No último post, (leia-o aqui), terminamos falando das diferenças de se ter uma produção baseada nos grandes monopólios e viver em uma sociedade onde os meios de produção estão distribuídos nas mãos de comunidades e famílias. A pergunta que ficou em aberto era: Porque, em uma sociedade descentralizada, existe uma blindagem natural contra crises econômicas e abusos estatais?
Antes de responder, vamos analisar de forma rápida o sistema econômico brasileiro, especificamente a nossa produção agrícola.
Quando os portugueses chegaram aqui, em 1500, e iniciaram o processo de colonização, em meados de 1530, o território foi dividido nas chamadas capitanias hereditárias, basicamente feudos gigantescos colocados nas mãos dos amigos do rei. Porém, devido ao seu tamanho e a dificuldade de gerenciar territórios tão vastos e desconhecidos, a maioria dessas capitanias vieram a falhar.
Com o passar do tempo, os terrítórios foram se fragmentando e formando os estados, mas a mentalidade, assim como a realidade dos latifúndios, permaneceu. Um exemplo disso foi o que aconteceu na abolição da escravidão, em 1888. A regente do Império, na época, era Princesa Isabel, a redentora. A filha de D. Pedro II, assim como o pai, sempre foi abolicionista, mas foi obrigada a efetivar suas convicções de forma lenta e gradual. Porque? Para evitar que a elite agrária se revoltasse, pois eram eles quem impediam essa reforma.
Princesa Isabel não só queria abolir a escravidão como também queria indenizar os escravos e fazer uma reforma agrária, a fim de garantir oportunidade de trabalho e integração social. (Apenas como curiosidade, ela também queria implementar o voto feminino, em pleno século XIX!)
Contra a vontade do povo, em 1889 tivemos o golpe militar que instaurou a república. Quase que imediatamente após esse período, a economia brasileira começou a declinar, e a única coisa que se manteve foi o poder e a influência dos grandes latifundiários.
Pulamos para os anos 20, quando tínhamos no Brasil o que todos conhecemos como "política do café com leite", onde as elites centralizadas paulistas e mineiras se alternavam no poder republicano. E é ai que fica interessante, pois foi justamente essa realidade que criou a crise cafeeira, e que exemplifica de forma impressionante a necessidade e a vantagem de termos uma economia descentralizada.
A base da nossa economia, nos anos 20, era a exportação agrícola, especialmente o café. Nas mãos de grandes oligarcas e sob proteção de legislações reguladoras e subsídios, o Brasil foi, nesse período, o maior exportador do produto. Em contra partida, também tínhamos poucas indústrias no país, fazendo com que importássemos a maior parte dos bens de consumo decorrentes de processos industriais.
Com o fim da Primeira Guerra Mundial e a chegada da Crise de 29, as importações de café despencaram, e o governo, através de medidas interventoras, chegou a comprar café dos produtores para mantê-los produzindo, assim como seus lucros. Quando isso não deu certo e o café começou a apodrecer nos estoques, a brilhante solução foi queimar as safras, até mesmo usando-as nas locomotivas a vapor.
E o que isso tudo prova, afinal? Prova que sempre fomos dependentes, economicamente falando, de um grupo muito pequeno de detentores de meios de produção e poder, essa mentalidade nunca saiu de nós. O Estado sempre esteve do lado daqueles que podem influenciar de alguma forma a sociedade, e ele o faz protegendo essa elite.
A partir do momento que a produção agrícola sai de uma grande fazenda e é transportada para os portos através das rodoviárias (é o método de transporte mais inefetivo possível, se comparado às locomotivas, principalmente) isso faz com que a roda da economia nacional dependa das vendas serem efetivadas. Se a soja, por exemplo, não for vendida para a China, isso criará um efeito dominó, afetando não só os preços dos alimentos, como toda a cadeia decorrente dela.
Por fim, como não há uma diluição da produção nas mãos de pequenos fazendeiros e produtores, quando um grande latifundiário "quebra", não há outros para absorver essa porção do mercado, criando não só uma monopolização cada vez maior dessa fatia, uma vez que serão cada vez menos os proprietários das terras, como também uma falsa sensação de que necessitamos de uma regulamentação, uma legislação que dite o funcionamento do setor, quando é justamente o contrário, a burocracia sufoca as pequenas terras de famílias, que não tem como concorrer com os gigantescos latifúndios protegidos por uma legislação interesseira e corrupta.
Vamos supor agora que eu resolva plantar soja no meu quintal (porque raios eu faria isso é uma excelente pergunta). E quando eu o faço, vem um programa de TV me entrevistar, e assim a ideia de plantar soja no quintal se espalha pelo país. Depois de uns meses, milhões de brasileiros plantam soja em seus quintais, e outros milhares compram essas safras de soja, seja para exportar ou para produzir aquele leite horrível que você adora colocar no seu café matinal.
Qual os efeitos dessa reação em cadeia? Vamos comentar no próximo post, para que esse não fique tão cansativo. Ah, e também vou contar o motivo dessa imagem de Minecraft ;)
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