Intro
Se você trabalha com T.I., principalmente programação, já deve ter considerado sair do país.
À primeira vista pode parecer algo inatingível, mas te garanto que não é.
Antes de sair do Brasil, durante a minha preparação, eu li relatos como este que você está lendo e agora quero devolver o favor.
Meu Perfil
Quando decidi sair o país eu tinha 31 anos e 12 de experiência como programador. Já havia tirado várias certificações técnicas e cheguei a dar aulas como instrutor Microsoft.
Acumulava experiências profissionais que variavam de startups à grandes bancos.
Devido à falta de novos desafios comecei a ficar entediado com tudo, principalmente minha carreira.
Concluí que havia chegado a um platô e comecei a procurar um próximo desafio.
Porque eu fiz isso?
Eu sempre tive curiosidade em conhecer outros países, só me faltava o tempo e o dinheiro para viajar.
Cansei de só poder viajar nas férias, me contentando com viagens curtas de uma semana ou duas.
Quando retornava das viagens, ficava a sensação de que não tinha sido suficiente, de que não tinha dado tempo.
Minha vontade era de viajar por meses, sem pressa. Queria ter calma e tempo para conhecer algo além do círculo turístico. Minha vontade era de ter uma experiência completa.
Eu queria morar fora.
Como sou programador, sempre existiu a opção de eu sair do país e continuar trabalhando remotamente para o meu emprego no Brasil.
O problema disso é o câmbio. Após converter reais para moeda estrangeira, o poder de compra caía muito.
Minha outra opção seria trabalhar fora, isto restringiria as minhas opções apenas para países falantes da língua inglesa. Cogitei Austrália, Canadá, EUA e Europa.
A prioridade era me estabelecer em uma cidade onde houvesse um mercado de T.I. aquecido, encontrei isto na tropical e ensolarada capital da Irlanda, Dublin.
Brincadeiras à parte, o clima chuvoso e frio não afetaram minha decisão.
Como eu fiz isso: A Preparação
Separei quase um ano para me preparar, no meu planejamento tive três grandes focos:
- Inglês
- Entrevistas de emprego
- Dinheiro.
Eu fiz uma imersão no inglês, escutava diariamente 3 horas de podcasts gringos de T.I. Aproveitava os congestionamentos de São Paulo para mergulhar no idioma.
Pesquisei diariamente as vagas de emprego para programadores em Dublin, criei uma planilha onde listava as tecnologias e skills mais pedidos.
Baseado nos resultados da planilha eu selecionava os episódios dos podcasts a serem escutados. Matando dois coelhos com uma cajadada só.
Na parte financeira optei por realizar várias compras de Euros. Todo mês, sempre que a cotação baixava, fazia uma compra. Deixei a maior parte do dinheiro em um cartão de débito. No total juntei o suficiente para me manter 6 meses sem trabalhar.
Em paralelo fui levantando informações sobre custo de vida: Imóvel, comida, plano de saúde, passagens aéreas, viagens, academia etc.
Chegando lá
Adorei o bom humor dos Irlandeses, fiquei encantando com este país e me adaptei rapidamente à Dublin. Meu inglês já seria suficiente para começar as entrevistas, mas preferi dedicar os dois primeiros meses para me ambientar ao idioma.
Estudei inglês em período integral e quando não estava na escola eu fazia questão de me socializar e praticar a língua o máximo possível.
Aos finais de semana a socialização se dava nos pubs, entre uma pint e outra fui me acostumando com o sotaque Irlandês. Passados dois meses comecei a enviar currículos e recebi uma ligação, era um headhunter. Ele me explicou sobre a vaga, fiz dois phone screenings e uma entrevista pessoal.
Phone screening é quando o entrevistador te faz uma bateria de perguntas técnicas por telefone. No Brasil não temos esta prática. Só vi isto em empresas americanas e europeias.
Antes de receber uma resposta da empresa já havia entrado em outro processo seletivo. Neste processo fiz apenas uma entrevista pessoal seguida de um teste escrito. Desta vez a resposta veio rápido, recebi um sim e aceitei a proposta!
O mercado de trabalho
Na Irlanda quando um estrangeiro recebe um oferta de trabalho acima de 30 mil euros por ano na área de T.I., ele obtém um visto de trabalho. Com 5 anos recebe cidadania europeia.
A facilidade do visto foi fator decisivo na minha escolha.
No Reino Unido e Irlanda empregos em T.I. raramente pagarão menos de 40 mil euros, algumas vagas são acima de 100 mil. Existe uma carência de profissionais, principalmente programadores.
Existem dois tipos de contratação, a permanent seria equivalente à nossa CLT e o contract ao PJ. Independente da escolha a pessoa pagará muito imposto de renda, mais do que no Brasil.
Eu pagava mais de 2 mil euros de imposto por mês, mesmo assim conseguia viver com muito conforto. As coisas são mais baratas, a única exceção é o preço dos imóveis.
O clima das empresas é BEM mais leve do que no Brasil, os europeus são mais tranquilos. Notei que os brasileiros e norte americanos são em geral mais workaholics. Isto é uma percepção pessoal minha, não leve isto como verdade absoluta.
Vale a pena?
Isto depende de qual aspecto a gente analisa, vamos olhar separadamente:
- A experiência de vida
- O lado profissional como um todo
- A parte técnica, especificamente programação
Experiência de vida: vale muito a pena. Principalmente se você morar em uma cidade cosmopolita como Londres, NY ou Dublin. Morar fora é algo transformador. Você aprende outras línguas e culturas. Passa a ver o mundo com outros olhos e a valorizar alguns aspectos do Brasil que passavam despercebidos.
Profissionalmente também vale a pena, se você já trabalhou em multinacionais sabe que é fundamental saber lidar com os gringos. Uma experiência internacional dá um boost no seu relacionamento interpessoal.
Na parte técnica, especificamente na programação, não notei nada de especial. A maturidade técnica das empresas e programadores brasileiros não deixam nada a desejar e na minha experiência, são melhores.
Espero que este relato te ajude. Um abraço e até a próxima.
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