Greta Thunberg, uma adolescente sueca de 16 anos que ficou famosa, em 2018, por protestar em frente ao parlamento sueco pedindo medidas urgentes por parte de seu governo contra o aquecimento global, fez recentemente uma fala na ONU que impressionou muita gente.
Muita gente mesmo, e eu tô falando aqui por experiência própria, pois vi até pós-doutores elogiando seu "discurso incrível e impactante".
Mas esse discurso...
Olha... A mim não impressionou.
Digo, eu gosto da motivação e das boas intenções da menina Greta, e acredito que há certo mérito em simplesmente se dispor a defender a pauta ambiental frente a uma organização internacional como a ONU.
Mas eu realmente não consigo comprar o que ela fala...
Digo, tudo o que nos aparece é passível de interpretação. E especificamente nesse seu discurso na ONU, eu realmente só vi uma adolescente idealista falando coisas vagas e sem proposição, em tom acusatório, tomando-se como porta-voz das gerações mais novas e as que ainda estão por vir.
Me parece tudo meio bonito, romântico, idealista... Nada disso, entretanto, me impressiona. Sinceramente, só me passa a ideia de que a ONU é um espaço meramente político, e não um espaço técnico no qual o destaque são justamente os especialistas, pessoas com relevância científica preocupadas em conjecturar soluções.
A verdade é que políticos não são especialistas, ao menos não das questões climáticas, tecnológicas e econômicas que permeiam toda a pauta ambiental.
Sim, temos que reconhecer que Greta fez o que pôde fazer, isso é o mínimo da nossa parte.
Mas tendo assistido à sua palestra em uma TED Talk de Estocolmo, tendo percebido que Greta consegue se alinhar a uma postura e compreensão racional dos problemas climáticos, me parece que a jovem Greta optou intencionalmente não por fazer uma análise moderada do problema climático — o qual exige precaução frente à necessidade de conciliar os interesses dos governos e das empresas com os interesses das pessoas e do meio ambiente.
Greta, me parece, fez justamente o que qualquer ativista com interesses meramente políticos faria, e vomitou preocupações alarmistas apontando o dedo na cara das autoridades.
Sim, eu sei que o alarme tá tocando silenciosamente, mas não é o papel da Greta fazer esse alarme ganhar a atenção que merece..., ela é apenas uma adolescente.
Adolescentes podem trazer esperança, de fato, e comumente simbolizam a possibilidade de mudança. Eles não podem, entretanto, liderar mudanças estruturais numa sociedade complexa e que não depende, e nunca dependerá, de boas intenções.
Para além das críticas conspiratórias de que Greta é um mero fantoche de George Soros, a gente precisa reconhecer que Greta é uma adolescente, e está no seu direito de sonhar com um mundo melhor, algo que todo adolescente em algum momento acaba aspirando.
Greta está pavimentando um caminho promissor em sua própria carreira, e eu realmente não duvido que ela já esteja na lista de indicadas para o próximo Nobel da Paz.
E se ela receber esse Nobel, eu aposto que não será porque ela realmente esteja melhorando as condições climáticas, e sim porque ela está ganhando certo destaque no cenário político, e política é feita de imagem, de popularidade e, infelizmente, de demagogia...
Ela merece tapinhas nas costas, merece sonhar e se tornar símbolo de esperança. Não merece, entretanto, ser vista como uma pessoa genial, que traz soluções, uma especialista em solucionar problemas.
Mesmo se mobilizando, ela continua sendo uma adolescente idealista que sabe reconhecer o problema mas não tem competência pra administrar soluções. E isso significa tão somente que não devemos cobrar de Greta mais do que ela pode oferecer.
E fato é que tudo que ela ofereceu até aqui não é impressionante, mas previsível diante do fato de que qualquer ativista pelo clima faria exatamente o mesmo, e até melhor, caso tivesse a mesma oportunidade que Greta está tendo...
A busca por atenção é algo próprio de qualquer causa social, e nesse sentido o impressionante não foi o que Greta diz, o que Greta fez ou o que Greta simboliza. Impressionante é a atenção que nós estamos dando a ela, atenção essa reivindicada por todo climatologista e toda sorte de órgãos competentes e científicos que estão preocupados com esse problema que afeta o mundo por inteiro.
Ao meu ver, se tem um papel realmente fundamental no que Greta tem feito, me parece que é o papel de pavimentar e facilitar o caminho para que especialistas sobre o clima ganhem a voz que merecem. Greta tá sendo alçada na opinião pública como uma liderança ambientalista, e a gente sabe que os interesses em torno das pautas ambientais são tão variados que Greta acabará representando, pra muitos, não apenas uma liderança ambiental, mas uma liderança esquerdista.
E isso é perigoso, pois é pintar uma jovem de 16 anos como porta-voz de toda uma variedade de pautas extremamente politizadas que ela, definitivamente, não representa. Greta representa a si mesma e seus próprios sonhos.
Digo, ela é vegana, sueca, tem acesso a uma das melhores educações do mundo, e o que ela faz quando chega na ONU? Ela diz que o futuro dela foi roubado e que a culpa é do sistema...
Eu não sei vocês, mas ao meu ver, qualquer cenário em que o mundo se encontrar daqui 50 anos, Greta vai continuar sendo uma pessoa social e economicamente privilegiada no exato mesmo sistema do qual ela tá reclamando.
Ela reclamar que o futuro dela tá sendo roubado frente ao status social que ela já tem me faz pensar que uma adolescente de mesma idade, que seja favelada no Brasil ou... sei lá, no Haiti..., não poderá sequer se projetar nesse mesmo futuro que Greta espera pra si mesma.
Afinal, se alguém extramente privilegiado agora não tem muita perspectiva de vida daqui algumas décadas, o que a gente consegue pensar de tantos outros que não compartilham das mesmas oportunidades, não é mesmo?
Meu ponto aqui é que existe uma certa arrogância militante que nubla a preocupação legítima com a pauta ambiental.
Existe muita glamourização frente ao fato, como se Greta ter se colocado como representante da sua própria geração e das gerações futuras fosse um ato heróico e de verdadeiro altruísmo, como se o show pelo show se justificasse a si mesmo, num eterno ciclo de geração de boas intenções.
Se tudo der errado e a jovem Greta não conseguir fazer vingar suas reclamações, ao menos ela vai acabar se tornando uma pessoa com pautas válidas que diz coisas bonitas, que impactam leigos e trazem esperança de dias melhores.
(ou não tão piores, se é que me entendem)
Mas se eu tô autorizado a exigir alguma coisa de Greta, podem ter certeza que não é apenas mais um show de empatia com o Planeta Terra, mostrando mágoa e chorando pelos que ainda nem nasceram.
Eu não quero a Greta da ONU, eu quero a Greta do TED Talks de Estocolmo. Uma menina mais ponderada, firme e coerente em seu próprio discurso, que abraça o fato de que de boas intenções o inferno está cheio.
Em seu TED, ela reivindicou que o importante não é ter esperança, mas agir.
E de fato, individualmente Greta tá agindo, ela tá fazendo o que pode, mesmo sendo apenas uma garota em idade escolar.
Não podemos, entretanto, tomar sua agência como símbolo de esperança. Ela mesma nega que a esperança possa existir sem ação. A gente precisa reconhecer que uma Greta sozinha não faz verão.
(nem inverno, nem outono e nem primavera, já que a gente tá falando de clima, né)
"A menina Greta", enquanto um ideal civilizacional, só vai se justificar se a sua ação for potencializada, se transcender sua própria agência...
E, infelizmente, eu sou realmente Cético com a crença de que ações eficientes necessariamente vão derivar de discursos.
Os discursos ajudam, mas superar nosso tribalismo, que há muitos anos já tem colocado a pauta ambiental como uma pauta esquerdista e não uma pauta global, uma pauta que é verdadeiramente de todos nós, é algo que nenhum discurso tem o poder de mudar.
E pra gente pensar um pouquinho melhor sobre isso, no próximo vídeo eu vou trazer uma reflexão justamente sobre aquecimento global e os usos políticos que estão sendo feitos dessa pauta. É um assunto sério e realmente lamentável, então fiquem ligados que vai valer a pena.
Ah, e se gostaram da minha opinião, então deixem sua curtida e seu comentário. Vamos conversando, valeu?
Eu sou o Alysson Augusto e a gente se vê no próximo episódio. Forte abraço.
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