Dando sequência à série de textos sobre o processo de finalização de som do filme “Tropa de Elite 2”, hoje falaremos sobre a formação e interação da equipe de trabalho da pós-produção sonora do filme.
A Pós-produção de Som no “Tropa 2”
Normalmente as equipes de edição de som seguem uma linha de trabalho com áreas bem segmentadas de acordo com cada elemento da banda sonora. As principais segmentações são: diálogo, efeitos, ambientes e foley. A equipe de edição de som do filme estudado, supervisionada por Alessandro Laroca, também é segmentada. O trabalho no estúdio 1927Audio, em Curitiba, é sempre dividido em três departamentos básicos: de diálogos, de foley e efeitos. Para o Tropa de Elite 2 houve algumas situações especiais:
- Departamento de diálogo: começou com uma editora de diálogo (Débora Opolski) e um assistente (Henrique Bertol) mas terminou com apenas um editor (Henrique Bertol).
- Departamento de foley: foi composto por um técnico de gravação e editor de foley (Andre Azoubel) e um artista de foley (Roger Hands).
- Departamento de efeitos: formado por um sound designer (Eduardo Virmond) e mais quatro assistentes (Anderson Tieta, Andressa Cor, Priscila Pereira e Lilian Nakahodo), foi separado nas categorias: ambientes, efeitos em geral (rádios, flashes de câmeras fotográficas etc.), veículos e tiros.
Já a equipe de mixagem foi composta por um mixador (Armando Torres Jr.), uma assistente de mixagem (Paula Anhesini) e uma produtora de mixagem (Débora Arima). Vale destacar que Alessandro Laroca e Armando Torres Jr. vêm trabalhando juntos há algum tempo, constituindo uma parceria nos projetos e, portanto, com uma interação e afinidade de trabalho já estabelecida. A trilha musical é assinada pelo músico Pedro Bromfman. Apesar desse mesmo time ter participado também do primeiro filme, Tropa de Elite (José Padilha, 2007), salvo algumas mudanças na equipe de Alessandro Laroca, a contratação dos serviços de finalização de som no Tropa 2 também aconteceu após as filmagens. Logo, não houve comunicação entre equipe de som direto e de finalização de som antes das filmagens. Por consequência, o conceito de som do filme foi elaborado na pós-produção de som sem poder utilizar todo o potencial e sofisticação de um trabalho que integre todas as etapas da produção sonora audiovisual de forma coesa, unificada e em prol de um pensamento comum. Demandando assim, um processo de finalização de som maior, mais trabalhoso, desgastante e dispendioso, relacionado principalmente às questões da dublagem, como será melhor exposto na Parte #04 desta série sobre a mixagem.
Contudo, foi realizada uma reunião de cunho mais administrativo para acertar o cronograma da etapa de finalização da obra. Para Alessandro Laroca essa foi uma reunião importante pois colocou todos os envolvidos com a pós-produção do filme frente a frente e todos fizeram um comprometimento público de que fariam o trabalho no prazo e nas condições determinadas. Neste encontro estavam presentes o diretor José Padilha, dois produtores, a coordenadora de pós-produção Alessandra Casolari, o montador Daniel Rezende e sua assistente, Alessandro Laroca e o compositor Pedro Bromfman. Nas palavras de Alessandro Laroca:
"O quê que as produções fazem hoje no Brasil? Eles te ligam e falam assim: “Olha, a gente vai te entregar um filme no final de junho, tá? Porque a gente vai lançar e tal”. Só que você não tem comprometimento de ninguém, você não sabe o que está acontecendo. De repente a montagem atrasou, só que a data do cronograma eles não mudam. De repente você está trabalhando em um filme e os efeitos visuais não ficam prontos. Você não tem efeitos, não consegue sonorizar aquilo. E você vai ficando espremido, espremido, e não sabe com quem está lidando. De repente você está virando noite tentando cumprir um cronograma sendo que os outros não vão cumprir. E aí, quando você já está ali esgotado, se matando, você percebe que eles não vão conseguir entregar mesmo. Aí você vê que não precisava estar fazendo aquilo. Ou seja, você não sabe o que está acontecendo. Isso o coordenador de pós- produção pode passar tudo direito, só que ele fica refém no meio de produtor que diz uma coisa, diretor que diz outra. O quê que o Zé (Padilha) fez? Ele centralizou todos os envolvidos e organizou isso. A partir do momento que fechou, fechou!"
A participação do montador Daniel Rezende no processo de construção do conceito de som do Tropa 2 também é muito valorizada. Propostas, como por exemplo, iniciar o filme com o som começando antes da imagem, o que chama atenção para a trilha sonora, ou mesmo os overlaps* presentes ao longo da narrativa, foram feitas por ele. Quesito notado também em outros trabalhos realizados pelo montador como é exposto por Alessandro Laroca:
"O Primeiro sound designer de um filme é o montador. Antes disso você não sabe o que pode acontecer. Se o montador não faz proposta de som, beleza, o primeiro desenho de som vai ser da edição mesmo. Mas no caso do Blindness, e qualquer outro filme que o Daniel monta, ele já propõe muita coisa."
*Overlap é o nome dado quando o som de uma sequência começa na sequência anterior.
Leia também a primeira parte da série: PARTE #01