Íamos numa Kombi 72 sem alguns cintos funcionando, levando cachorro, geladeira, três crianças juntas chorando (geralmente no chão já que o pai tirava uma fileira de bancos para caber as coisaradas), gaiola, muita comida (porque na época eram raros os mercados por lá), isso tudo descendo uma serra sem asfalto, num calçamento rústico digno dos tempos do Império, onde mal passava nossa Kombi e um ciclista apertadinho.
A pergunta hoje é: Como estamos vivos? Não sei. Inclusive foi numa dessas viagens que a bolsa da minha mãe estourou e ainda assim ela não quis que eu nascesse lá, retornando para nossa cidade e eu já apontando para esse mundo.
Não é para menos que os parentes nos chamavam de “A Família Buscapé”, porque morávamos no mato, a Kombi velha sempre estragando, as crianças sempre brigando e por um tempo tínhamos uma espingarda no sítio.
Não são lembranças muito confortáveis, meus irmãos brigavam muito comigo por eu ser a mais nova, apesar de poucos postos fiscais, a polícia vez ou outra parava meu pai pela situação da viagem e certa vez, pararam e um vidro de cachaça da serra tinha quebrado dentro da Kombi, fazendo rescender o cheiro provavelmente por todo o posto dos policiais e obrigando meu pai a passar por um teste para verificar se havia bebido ou não. Não bebeu, a cachaça era para um amigo.
São nossas lembranças e são boas, em sua maioria... Isso tudo rebate na minha aventura materna com a Clarice, para propiciar uma infância memorável à ela. Os tempos são outros, mas quero que ela viva boas histórias, mesmo que ruins e é isso que é difícil hoje na vida materna. Minha mãe simplesmente ignorava os meus choramingos quando minha irmã mais velha me beliscava nos braços a ponto de ficar roxos, hoje se a Clarice cai um tombinho de nada eu quase choro com ela.
Acredito que estamos tão rodeados de notícias terríveis de crianças que caem na calçada de casa e sofrem traumatismo craniano ou de acidentes fatais por conta do uso incorreto da cadeirinha que não nos ligamos para uma boa aventura! Claro, não exponho a minha filha a riscos nem pretendo. O que eu quero dizer é que é muito difícil às vezes desligar o instinto intenso de proteção exagerada e viver a vida mais leve. Mas vamos aprendendo! Clarice tem dois anos e meio e já tem algumas cicatrizes, tombos na praia, deslizes nas cachoeiras e piscinas de lona para se aventurar.
Minha Clarice brincando com o papai @thomashblum em Itapoá/SC
Espero um dia poder vê-la lembrando de nossas histórias com a alegria que minha família e eu nos lembramos das nossas.
Obrigada pela leitura! Abraços, Caroline. <3
Parabéns, seu post foi votado e compartilhado pelo projeto Brazilian Power, cuja meta é incentivar a criação de mais conteúdo de qualidade, conectando a comunidade brasileira e melhorando as recompensas no Steemit. Obrigado!
Que história mais fofa, @caroline.muller! Acho que você disse tudo mesmo, e ela terá até as lembranças dos arranhões nas brincadeiras, dos empurrões na escola, quando crescer mais um pouco, e por aí vai. A, ai, que coisa linda essa Clarice!
Receba um abraço, paz e bem! =)
Obrigada @manandezo! Fico feliz que tenha lido! Você tem que conhecer essa sapeca, ela me deixa louca hahaha!
Abraços, até mais. <3
Texto maravilhoso. Não sei como a nossa geração resistiu. :) ahahahahah
Hahaha! Quase uma seleção natural! Obrigada pela leitura! <3
Com certeza ela irá lembrar e com muito mais detalhe. Mãe de primeira viagem acaba tendo, digamos um pouco mais de instinto protetor. É normal isso e você irá modelando e moderando com o tempo. Nada melhor do que curtir a família passenado e se divertindo.
Obrigada pela leitura, @coyotelation! De fato, acredito que por ser o primeiro filho, nós nos preocupamos muito com qualquer detalhe e a culpa nos atormenta! Espero que, como você disse, vá passando com o tempo. ;)
Vai sim, você é forte! :D
Você me lembrou de uma viagem que fiz com minha família. Fomos de Caravan se São Paulo até Buenos Aires. Acredito que o ano era 1988. Estávamos em 7 no carro. Meu pai, minha mãe, meu tio, minha tia, meu irmão, meu primo e eu. Como disse, não sei como estamos vivos, ou pior, como cruzamos a fronteira do país desta forma. Mas deu certo. O lance é esse mesmo, o tempo passa, as coisas mudam e com certeza a Clarisse vai lembrar de alguma aventura pois o espírito das crianças é de explorador e os arranhões dela serão boas memórias apesar da sua dor ao ver ela se machucar.
As coisas eram realmente muito diferentes antigamente, mas passar a fronteira assim eu não consigo nem imaginar hahahah! Muito obrigada pela leitura! Abraços.
Que bonitas palavras! Ela irá lembrar-se de uma infância feliz, concerteza!
Obrigada pela leitura, @d-drummer!
Parabéns! Esses dias comentando aqui, e até na prática clínica, sempre oriento e lembro que não existe receita de bolo. Mais importante que cair é aprender a se levantar. Preocupação é carinho, amor. E com amor e diálogo, não tem acerto ou erro, somos humanos. Parabéns pela filhota! Já está aqui na Blockchain gravado para ela lembrar e ler o carinho e preocupação para com ela!
Obrigada pela leitura, @matheusggr! De fato, acredito também que não exista uma receita específica e dosada para tudo na vida, mas aos poucos vamos acertando! :D
Olá @caroline.muller, fiz um post mencionando você por causa da sua publicação! Se puder, espero que possa conferir neste post. Tudo em prol de uma boa interação para nossa comunidade #pt. Até mais!
Oi @coyotelation! Muito obrigada! Ainda não tenho os esquemas aqui que aparecem as menções, obrigada por avisar!!!
Muito bom!! Pelo que vejo de ambas vocês duas pessoas(você e o Thomas), acredito que ela terá boas memórias sim!! E a sua atenção para isso é algo que traz várias reflexões!! Grato por esse texto!!
Muito obrigada @paulo.sar! Nos esforçamos muito para criar nossa Clarice bem! E agradeço a ti pela leitura! Até mais, abraços!
De nada, abraço!
Realmente a vida moderna tem trazido muitos impedimentos e menos aventuras na infância: excesso de informação - excesso de más notícias que nos entram pelos olhos - excesso de zelo - excesso de paredes - excesso de agendas! Também sou mãe de primeira vez, a minha pequena é mais nova, tem quase 1 ano e meio :) Acho que por ser psicóloga vou conseguindo pôr de lado a super proteção porque as quedas e (muitas) cabeçadas que ela dá abanam-me o coração, mas fico estática a ver o que a pequena faz :D Ela lá coça a cabeça, faz uma careta e continua a desarrumar o que for que estava a fazer!
Gostaria de ter mais aventuras com ela, mas vamos tentando inventar novas atividades aos domingos (domingo passado foi "uma aventura no hospital pediátrico", este domingo vai ser "uma aventura nas lides domésticas!" :D). Com o passar do tempo acredito que tenhamos melhores dias e outras aventuras :)
Mas nunca vão ser como as nossas aventuras de infância: qual cinto de segurança, qual cadeirinha?! Estradas esburacadas eram melhores que as montanhas russas! E a praia?! Sem preocupações, uma toalha e uma mala com comida! Boas memórias de África :) No "mundo civilizado" que é Portugal? Vamos ver que memórias ficarão... Obrigada pela partilha @caroline.muller!
Oi @helgapn! Que bom ler seu comentário! Você como psicóloga deve ter uma bagagem maior ainda no cuidado com sua filha, mas ainda assim te entendo porque somos mães de primeira viagem. Sei bem como são essas cabeçadas, caídas, machucados... Acredito que com o passar do tempo vamos nos acostumando mais. Obrigada por compartilhar um pouco de sua experiência aqui também! Abraços!
Faz parte de nossa rotina de mãe providenciar essas aventuras para nossas pequenas!