Uma introdução ao mistério do Sasquatch

in #pt6 years ago (edited)

Pequena introdução sobre o mistério do Sasquatch, alegado primata que habitaria as florestas temperadas da América do Norte, sendo conhecido também como Pé-Grande ou recebendo nomes como Yeti (Nepal) e Almasty (Rússia).

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Lendas estranhas são encontradas em cada rincão do mundo. Algumas parecem encontrar algum fundamento na realidade verificável enquanto outras soam como elaborações imaginativas resgatando materiais inconscientes e simbolismos elaborados com motivo de significar algo e não representar uma entidade de fato. Entre tantas lendas, deparamo-nos com mitos de homens selvagens: seres de natureza bruta, aparência peluda e uma vida obediente a primitivos padrões em meio à natureza. Contos assim variam conforme o local de emergência, mas sempre parecem fazer alusão a uma parte de nós que ficou para trás reprimida, que é aquela do selvagem, do homem na natureza e como parte dela, revelado mitologicamente como um protetor do reino florestal e dos seus domínios.

Aprofundar-se sobre uma genealogia mítica remontando a algum propósito psicológico ou mesmo a elaborações metafóricas que se perderam em seus sentidos e foram confundidas com a realidade não é, no entanto, a proposta do texto. A intenção é perseguir rasamente as origens desse fenômeno tentando estabelecer seu parentesco dentro do próprio domínio zoológico, talvez fazendo repensar até onde é apropriado o uso do termo zoológico aqui – talvez seja mais útil deixar o termo em sua radicalidade como ζῶ, zô, viver, que denota ζωή, zoé, ou vida, implicando somente em algo vivo uma vez que algumas perspectivas levam a desconfiar da animalidade desse ser. Portanto, essa introdução consistirá mais num levantamento das hipóteses mais aceitas sobre a criatura, implicando em sua existência, e no histórico dos avistamentos – essa palavra que o corretor acusa e que parece ser empregada somente em casos de mistério! Porém, não é intenção ir muito longe nessa ocasião. Pretende-se apresentar alguns casos relativos ao Yeti e ao Sasquatch apenas, deixando para ocasiões futuras um possível aprofundamento dos casos.

Os registros envolvendo sasquatchs são muito antigos. Conhecido também como “Pé Grande” (Bigfoot), o nome Sasquatch vem de um termo usado pelos indígenas que falam a língua halkomelem, pertencente à família salishe. O idioma é falado por indígenas da Colúmbia Britânica (Canadá) e do Noroeste Pacífico dos Estados Unidos. Em tal idioma, chama-se a misteriosa criatura de sasq’ets, nome aproximado para o inglês na forma de Sasquatch. A palavra indígena significaria homem selvagem, fazendo referência à mítica criatura que habitaria as florestas da região. Mas a alusão à criatura não seria exclusividade desses povos e sim algo verificável em mais de sessenta denominações diferentes usadas por vários grupos indígenas variados para nominar semelhante ser. Nas florestas temperadas norte-americanas, a presença cultural do Sasquatchs entre os indígenas parece ser uma constante. Contudo, como regra, a visão de mundo das chamadas primeiras nações, ou povos indígenas, é a de um mundo encantado, de uma natureza mágica que participa de níveis diferentes de existência: o mundo natural é permeável àquele dos espíritos, que penetra em seu tecido e é capaz de transformar coisa em outra e de ocasionar milagres em seu cerne. O Sasquatch não era um questionamento zoológico dos indígenas, uma vez que sua interpretação de mundo não assume essa abordagem da realidade. Assim, o espanto com a possibilidade desse animal esquivo e assustador se tornou mais nítido com a vinda do europeu e da conquista das inóspitas regiões ocidentais da América do Norte.

Mas não é apenas na América do Norte que lendas similares vivem entre o universo das crenças populares. Nas áreas montanhosas da Ásia, mais especificamente nos Himalaias, existe a lenda do Yeti, que em nepalês significa homem da montanha, traduzido para o português como “O Abominável Homem das Neves. De fato, o governo nepalês afirma a existência da criatura desde 1961. Já nas extensões eurasianas da Rússia e da Mongólia, há a lenda do Almas (ou Almasty), homem selvagem muito semelhante aos já mencionados, mas encontrado em montanhas da Ásia Central e nas montanhas Altai, na Mongólia ocidental. Há ainda outros relatos de humanoides semelhantes em várias regiões, normalmente entrando para as contas até supostas criaturas morfologicamente bem diferentes, como o Orang’Pendek, oYowie ou mesmo o Mapinguari, criatura lendária brasileira.

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Traje representativo de um Sasquatch entre indígenas

O caso dos Yeti é bastante interessante para ser estudado. Seus relatos são antiquíssimos. Em 326 A.C., Alexandre o Grande, enquanto conquistava o Vale do Indo, quis ver um Yeti, mas os locais falaram que a criatura não sobreviveria em baixa altitude. À criatura é dado até um significado religioso em alguns lugares, como em um monastério budista onde há um suposto escalpo de Yeti e que serve sazonalmente para fins rituais de esconjuro de demônios.

Quando os ocidentais começaram a ir regularmente aos Himalaias buscando aventura em suas altas montanhas, a lenda começou a invadir os meios de comunicação na forma de avistamentos e relatos da lenda. Em 1921, um grupo de exploradores britânicos garantiu ter descoberto grandes pegadas no Everest, um jornalista ouviu o grupo e cunhou o nome “Abominável Homem das Neves” ao traduzir de forma equivocada o nome dado pelos nativos da região. Em 1951, Eric Earle Shipton, um explorador britânico, fotografou supostas pegadas do Yeti na neve, o que incendiou o tema no Ocidente, colaborando no aumento de popularidade do seu primo norte-americano, o Sasquatch. Até hoje não foi obtida alguma evidência válida que confirme a existência do Yeti, mas sua existência é um importante fator turístico no Nepal e o seu governo admite a existência da criatura desde os anos 60.

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Fotografia tirada por Eric Shipton

Voltando ao caso do Sasquatch, os relatos mais relevantes para o texto começam com a chegada do homem europeu até as regiões em que a criatura habitaria. O primeiro relato envolvendo um Pé-grande por um homem branco teria vindo de 1811, em Alberta, Canadá, onde um homem relatou ter encontrando pegadas muito grandes e desconhecidas na neve. Em 1884, um jornal chamado Daily Colonist falava de um suposto Sasquatch capturado, ao qual foi dado o nome de Jacko, mas a descrição da criatura, que teria apenas 1,2m, seria mais próxima a de um chimpanzé ou de algum outro primata que poderia ter fugido de algum lugar e era de espécie desconhecida aos sujeitos envolvidos. Um lenhador canadense chamado Albert Ostman contou que em 1924 ele teria sido capturado por uma família de Sasquatchs e mantido entre eles, que tinham uma dieta vegetariana, por cerca de uma semana até conseguir escapar. Ele só contou a história em 1957 com medo de que o chamassem de louco.

No ano de 1924, próximo ao Monte Santa Helena (Mount St. Helens), em Washington, nos Estados Unidos, um evento muito curioso foi relatado num cânion. Um grupo de mineiros teria tido um encontro violento com um grupo de "homens macacos". A história foi publicada no jornal The Oregonian em 16 de julho no mesmo ano. O mineiro Fred Becker garante que uma das criaturas foi morta a tiros, o que teria causado o ataque à cabana deles mais tarde, que foi feito na forma de pedras lançadas contra a cabana. Décadas depois, Beck atribuiria elementos sobrenaturais ao caso, falando que teve visões a vida toda e que os homens símios eram apenas parte dela. O mesmo Becker foi entrevistado em 1966 por Roger Patterson, nome que ficaria guardado na história um ano depois. Há quem garanta que, na realidade, eram garotos das proximidades atirando pedras no cânion em que os mineiros estavam e sem perceber que havia gente lá embaixo. Os mineiros, por sua vez, contra o sol, só viam vultos escuros atacando suas posições. Apesar disso, o Monte Santa Helena é um lugar com outros casos estranhos envolvendo as estranhas criaturas. Desaparecimentos estranhos e indícios da presença de Sasquatchs abundam nessa região. O cânion do ocorrido ficou conhecido para sempre como Ape Canyon.

A partir de 1958, quando um operador de escavadeira chamado Jerry Crew achou pegadas enormes onde trabalhava em Humboldt County, California, o tema do Sasquatch começou a ganhar ainda mais notoriedade. Crew fez um molde da pegada e um jornal local fez uma matéria sobre o assunto, publicando juntamente uma foto do homem ao lado do molde. Essa matéria com Crew segurando o "Pé Grande" teria ajudado a popularizar o nome de "Pé Grande". A pegada chegaria a 44 cm. É possível estipular uma intensificação de interesse no Sasquatch a partir desse evento e de alguns outros anteriormente mencionados, como o da suposta pegada de Yeti fotografada por Shipton. Obviamente, a ideia de fazer moldes com pegadas também é um belo convite para pessoas tentadas a criar farsas para a própria diversão ou fama. Mas é a partir daí que o tema começa a ganhar força na publicidade e na própria cultura, passando a fazer parte de filmes, gibis e reportagens.

Em 1967, o nome antes mencionado de Roger Patterson se tornaria famoso. Ele, que investigava o assunto fazendo pesquisas e entrevistas, afirmara ter conseguido capturar em filme um legítimo Sasquatch do sexo feminino andando em Bluff Creek, Califórnia. Acompanhado do ainda vivo Bob Gimlin, eles teriam capturado a sequência mais clara e emblemática do que seria um Sasquatch. Até o presente dia, ninguém conseguiu comprovar que aquela filmagem era falsa. O ano era 1967 e nem Hollywood teria fantasias tão perfeitas, pois é possível ver o movimento dos músculos da criatura com a devida ampliação do filme. O fato de Patterson e Gimlin serem pessoas simples do interior, sem acesso a grandes orçamentos ou tecnologias dá força a essa ideia. Da mesma forma, a forma com que a criatura caminha é muito diferente em comparação ao movimento de um humano (o ângulo que as pernas dobram, por exemplo), assim como a proporção de seus membros é de outra razão que não a humana. Esses são alguns dos argumentos que os defensores da legitimidade do filme utilizam a seu favor. A verdade é que o Filme Patterson-Gimlin é um episódio à parte. Por isso mesmo, já dediquei um texto exclusivo para esse filme, onde poderão ser visitados os argumentos a favor e contra esse filme. O texto pode ser lido aqui.

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Gif mostrando parte do Filme Patterson-Gimlin estabilizado

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Outro trecho

A partir dessa filmagem, o tema se popularizou ainda mais. Ganhou vários filmes, documentários e passou a viver para sempre na mente coletiva não só dos norte-americanos, mas do mundo todo. Em qualquer lugar que a informação toque através dos meios de comunicação, sabe-se o que é um Sasquatch ou um Pé-Grande, acredite-se em sua existência ou se leve todo o fenômeno como mera brincadeira espirituosa. Hoje, há toda uma subcultura sasquatchiana com vários canais no youtube se devotando quase que exclusivamente à análise meticulosa das evidências fotográficas e fílmicas que surgem com espantosa frequência. Como ótimos exemplos, poderia citar M. K. Davis, ThinkerThunker e Bigfoot Tony. Além disso, são vários os programas no formato documentário que, ao longo dos anos, tentaram procurar evidências dessas elusivas criaturas. O famoso Les Stroud, inclusive, o Survivorman do Discovery Channel, teve uma estranha experiência no Alasca, onde ele testemunhou alguma criatura desconhecida que ele, com toda sua experiência de sobrevivência e conhecimento da fauna, não soube reconhecer. Segundo ele, o som que a criatura fazia era típico de primata e não era nada parecido com qualquer som produzido por espécies locais (ele estava no meio do Alasca, isolado do contato humano). A criatura teria fugido antes que pudesse filmar, enquanto fazia fortes sons com seu movimento. Isso teria levado Les Stroud a direcionar toda a sexta temporada de seu show Survivorman à busca do Sasquatch.

Em geral, concorda-se nos atributos físicos do Sasquatch, com os relatos alcançando um grau satisfatório de consistência. A criatura teria de 1,8 até 2,7m e pesaria de 180 a 450 kg. O corpo seria coberto por pelagem sujeita a alterações de cor; há relatos de Sasquatchs com pelagem negra, com pelagem castanho-avermelhada, em tons mais dourados e até totalmente branca. Sua cabeça é frequentemente descrita com um formato levemente cônico na parte superior. Ele não teria pelo em partes do rosto, nas mãos e solas dos pés. Viveriam em pequenos grupos em locais bastante preservados de natureza na América do Norte. Apesar de serem mais relatados na porção Ocidental, também há relatos em outras partes dos EUA, como nas regiões mais setentrionais da porção oriental do mesmo país. Ao analisar os dados de relatos coletados em forma de mapa e compará-los aos índices pluviométricos, supõe-se ter encontrado uma correlação entre locais de maior índice pluviométrico anual e o habitat da criatura. Acredita-se que o Sasquatch seja onívoro e siga padrões de imigração semelhantes aos dos ursos negros. Eles não seriam agressivos normalmente, evitando a todo custo o contato com humanos. Muitos acreditam que os Sasquatchs são capazes de vocalizações e que fazem misteriosas estruturas com troncos nas florestas, possivelmente com algum significado prático.

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Como seria o Gigantopithecus perto de um humano

Sobre sua origem, uma teoria que possui bastante força localiza o Sasquatch como descendente do Gigantopithecus, um enorme símio que habitou a Ásia até 100 mil anos atrás. Esse animal extinto teria até 3 m de altura e pesaria entre 540 e 600 kg. Ele era onívoro e vivia no mesmo local que os humanos da época. A teoria seria de que o Sasquatch, o Yeti e semelhantes criptídeos (animais estudados pela criptozoologia, aqueles não reconhecidos pela zoologia por falta de provas) seriam pequenos grupos descendentes desse gigante símio antigo. A criatura, ou seus grupos remanescentes, teriam se adaptado e migrado para diferentes regiões, sobrevivendo até hoje em locais de difícil acesso.

Apesar de todos esses anos, ainda não se obteve uma evidência concreta e absoluta de sua existência. Há uma série de fotografias e filmagens, que são o tipo de prova que, conforme avança nossa tecnologia, ficam cada vez mais fáceis de falsificar. As pegadas são evidências já antigas na pesquisa que envolve os Sasquatchs, sendo vistas por alguns como provas consideráveis. É o caso do PhD Jeff Meldrum, um estudioso do tema. Ele, PhD em ciências anatômicas e especialista em morfologia e locomoção em primatas, estudou vários dos moldes de pegadas recolhidos em todas essas décadas. Ele e mais alguns dos defensores da hipótese do Sasquatch garantem que em algumas dessas pegadas é possível verificar marcas dérmicas que só poderiam resultar de um pé pertencente a um ser vivo, assim como a presença da chamada midtarsal break, que indicaria flexibilidade do pé no meio da sua sola, algo que é diferente do que ocorre nos humanos e mais comum em primatas. Esses tipos de detalhes alimentam as esperanças de alguns estudiosos, mas não servem para convencer a maior parte dos cientistas, que prefere permanecer cético até que haja alguma evidência incontestável. Talvez apenas um corpo ou um espécime vivo capturado consiga convencer a maior parte das pessoas. No entanto, até lá, o Sasquatch pode ser considerado um ser vivo dentro da nossa cultura, fazendo girar em torno de si toda uma subcultura e agindo como símbolo do homem selvagem que se perdeu um dia dentro de nós.

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REFERÊNCIAS

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Esse foi um post sobre mistérios, o que engloba a criptozoologia, ufologia, parapsicologia e outros campos parecidos. Pretendo escrever mais sobre o tema. Aqui você pode conferir a primeira postagem que fiz dentro dessa "série":

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Animais extintos que voltaram à vida
Animais que um dia já foram criptídeos | Black Shuck, o Cão Negro da Inglaterra | #FILMOTECA-Discovering Bigfoot (2017) | DESVENDADO-estranha criatura encontrada numa praia da Geórgia | Estranha criatura é encontrada numa praia da Geórgia | O Caso Mothman | O Monstro de Flatwoods | Sasquatch capturado no vídeo Patterson-Gimlin em 1967?

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