Caros, muito bom dia! Antes de entrarmos ao ponto, gostaria de compartilhar com vocês como o Noturno se desenvolveu como ideia criativa e gênero musical.
Usados pela primeira vez no séc. XVIII, o termo se referia principalmente a obras para música de câmara, destinadas a serem tocadas em eventos sociais noturnos ao ar livre. Como por exemplo o “Notturno em Ré maior, K.286”, a “Serenata Notturna, K. 239”, e o noturno "Ecco quel fiero istante K. 436", de Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Aqui podemos ouvir a gravação Serenata Notturna K. 239 em três movimentos, Marcha, Minueto, e Rondó. Escrita em 1776 numa interpretação da “Le Concert des Nations” sob a regência de Jordi Savall em 2005.
Posteriormente o pianista e compositor irlandês John Field (1782 – 1837) deu outros ares para o termo, transformou o Noturno em um gênero musical em si, e em música para piano. Compôs uma série de 18 Noturnos entre 1812 e 1836, com as primeiras versões sob o titulo de Romance.
Estas peças foram as que influenciaram Chopin, pela elegância contida em sua linguagem musical, melodias criativas, e a escrita idiomática que tira proveito do desenvolvimento mecânico do instrumento. Em especial do pedal de sustentação dos pianos ingleses da fábrica Broadwood, que permitiu Field expandir o acompanhamento da mão esquerda além do baixo de Alberti.
Frédéric Chopin (1810 - 1849) escreveu um total de 21 Noturnos, elevou a um novo patamar o genero criado por Field, conferindo uma nova perspectiva. Imprimiu em suas obras uma intensidade dramática maior, desenvolveu um vocabulário harmônico mais sofisticado, e uma textura de acompanhamento com maior construção contrapontística.
Chopin escreveu uma forma ABA muito mais complexa que Field, com frases irregulares e grande quantidade de melismas em sua melodia, herança das cavatinas operísticas de Bellini e Donizetti. A influência do bel canto italiano é uma marca na construção da linha melódica ornamentada dos noturnos de Frédéric Chopin. Em admiração aos cantores italianos, sempre aconselhava seus alunos que procurassem imitar o legato, o portamento da voz na busca de um perfeito cantábile, e evitar a todo custo uma sonoridade percussiva do instrumento.
Para iniciar suas apresentações, Chopin improvisava à procura da "nota azul", uma espécie de elo entre o mundo dos mortais e o mundo arrebatador da arte em sua expressão. Por sua suavidade e profundidade, no espiritismo sua música é considerada uma arte sublimada.
"La note bleue” (a nota azul), de 1991, é ainda o nome de um filme francês que conta sobre os últimos dias de sua vida profissional, e sobre o seu relacionamento amoroso com a escritora, romancista e crítica literária francesa George Sand. Outro filme dedicado a Frédéric é "À Noite Sonhamos" de Cornel Wilde (1945).
O mais legal, é que após o uso do termo em Mozart, a fagulha criativa de Field, o desenvolvimento e popularização dos Noturnos em Chopin, o gênero se consolidou com o passar das gerações. Compositores como Franz Liszt, Gabriel Fauré, Claude Debussy, Francis Poulenc, Alexander Scriabin, Benjamin Britten, Aron Copland, Samuel Barber, no Brasil Henrique Osvald, Heitor Villa-Lobos, e Almeida Prado, também escreveram seus Noturnos, seja para homenagear Chopin, ou capturar suas visões sobre a noite.
Pela liberdade expressiva que estas músicas proporcionam ao intérprete, gosto de usá-las para refletir sobre o pensamento musical dos grandes pianistas. Nestas obras é possível além de ouvir a respiração dos interpretes, entender como pensam sua música por meio da qualidade do rubatto, e da execução dos sinais expressivos contidos na partitura. Nelson Freire, Claudio Arral e Maurizio Pollini são os que ouço com maior frequência, e você tem algum favorito? Comente!
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Um grande abraço
Guilherme Faquetti
29 de fevereiro de 2018
Referencias bibliográficas
http://sites.ffclrp.usp.br/napcipem/pdf/Livro-III-online.pdf
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-6793/
http://www.75anosdecinema.pro.br/1576-CHOPIN,A_NOTA_AZUL(1991)
http://www.acasadoespiritismo.com.br/esponline/semeadoresverdade/12%20frederic%20chopin.htm
http://radiobatuta.com.br/programa/os-noturnos/
https://www.portoalegreemcena.com/single-post/2017/09/18/NOTURNO-PARA-CHOPIN
http://www.direitobrasil.adv.br/arquivospdf/musica/pre12.pdf
http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,novo-significado-para-os-noturnos,526818
http://www.oliver.psc.br/compositores/chopin.htm
http://classicos-favoritos.blogspot.com.br/2015/07/chopin-21-noturnos.html
https://pt.wikipedia.org/wiki/Noturno_(m%C3%BAsica)
Parabéns, seu post foi votado e compartilhado pelo projeto Brazilian Power, cuja meta é incentivar a criação de mais conteúdo de qualidade, conectando a comunidade brasileira e melhorando as recompensas no Steemit. Obrigado!
Esses detalhes que acompanham as obras abrem ainda mais ou nossos ouvidos, olhos e, pq não, o paladar :DDD
Você fez uma excelente apresentação e te parabenizo por isto.
Grande abraço e aperta o play :)
Obrigada @tmarisco, em breve tem mais :)
Opa vou lá dar uma olhada!
Cara...os noturnos e as etudes de Chopin são os meus preferidos. Emocionante demais e os movimentos dele no piano parecem rifs de guitarra de heavy metal com tanta velocidade :D Lindo demais.
Obrigado @jsantana, realmente são obras muito intensas de um compositor que assim como Mozart faleceu jovem. Gosto muito da Polonese Op. 53, ela aparece em diversos momentos no filme do Cornel Wilde em diferentes roupagens.
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Belo artigo (como sempre), meu amigo! Obrigado por trazer tanta informação rica sobre a música erudita. Ouvirei assim que possível! Se tiver algum álbum específico para indicar, me fala que eu baixo para ouvir com calma!
Obrigado por comentar e pelo apoio Thomas! As gravações do Maurizio Pollini estão disponiveis no Spotify assim como a do Arrau e do Nelson Freire. Todas são excelentes, a qualidade do áudio das gravações do Pollini e sua interpretação me agrada muito, só não coloquei-as no post por conta de não ter os dois Noturnos publicados após a morte de Chopin. Tem também a pianista portuguesa Maria João Pires, ela é sensacional, vale a pena ouvir!