A combinação das tradições religiosas do Ocidente e do Oriente, como necessidade de uma nova crença com sustentáculo mais abrangente, tem muito a ver com uma moda desenvolvida e promovida a partir dos resquícios de uma época em que se acreditava na liberdade de amar como contraponto ideológico à punição castradora do amor segundo a mais violenta prática religiosa do Ocidente.
Foi com as gerações de 60 e 70 do século passado que se massificou essa combinação (ensaiada já nas sociedades esotéricas do final do século XIX) com a ponte lançada entre o Ocidente e o Oriente.
A publicidade crescente de gurus indianos vinha paradoxalmente estimular uma geração que ideologicamente estaria à esquerda, mas fora dos esquemas centralistas e centralizadores dos partidos tradicionais e fechados em si mesmos numa prática de base filosófica de uma «utopia» fora de moda e anacrónica.
Essa juventude de uma esquerda «meta-ideológica» adoptou a tradição religiosa de lugares distantes e exóticos como verdades absolutas para sustentar o seu edifício libertário.
A identificação dessa modernidade progressista com determinadas práticas ritualísticas, espirituais, alimentares e corporais evolui numa direcção inesperada, perdendo o fulgor ideológico à esquerda e ajustando-se mais uma vez ao seu espaço ideológico tradicional, e por vezes incoerente, de novas elites afastadas dos centros instituídos.
Elites que enriquecem à custa dos novos negócios da moda ou de renovados investimentos de recursos familiares adquiridos na conduta tradicional que lhes permitiu não perder esse sentido da modernidade, mas também do modo, ao investir na viagem para novos centros espirituais que lhes desse, por outro lado, um estatuto social reforçado.
No regresso ao seu território, depois de várias iniciações espirituais e esotéricas, criam um novo negócio que oferece precisamente o que foram buscar noutras tradições: uma espécie de autoclismo espiritual dourado que despeje no esgoto do perdão os pecados na aquisição da pequena fortuna e lhes salve a consciência perante o pavor divino que é exactamente igual em todas as tradições.
Surgem, assim, «dojos», «satsangs», prática de vários yogas ou iogas, restaurantes de vegetarianismos radicais, centros de recuperação védicos, meditações transcendentais, sacerdotes de nomes impronunciáveis, tradições contraditórias com as culturas do Ocidente, mas sempre a mesma tentativa de esconder o Sol com a peneira.
Massifica-se esta prática, o negócio cresce exponencialmente e, mais uma vez, por causa do dinheiro fácil, perde-se a essência, a pureza, para dar lugar a uma ridícula ignorância do conhecimento filosófico original.
O que poderia ser a oportunidade ecuménica na criação de uma nova identidade religiosa de uma comunidade moderna, perde-se na cedência ao negócio fácil, desonesto, trapaceiro e de falsas promessas para se regressar conscientemente à fórmula do enriquecimento, mas agora em nome de uma «nova» prática de libertação espiritual na tradição milenar dos orientes.
É o eterno retorno à feira que vende paraísos através de artifícios cambiantes que só prometem vida plena para além da morte.
E o capitalismo neo-religioso de tendência ecuménica cumpre o seu papel: distanciar as pessoas da sua luta diária por condições sociais que os liberte de vários tipos de escravatura aos quais a crença irracional conduz inexoravelmente.
Em nome de uma fé em hipóteses que o turismo aproveita, alimentando o capitalismo opiáceo.
Luís Filipe Sarmento, Gabinete de Curiosidades, Lisboa, São Paulo, 2017
Foto: José Lorvão
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