Foto tirada com uma máquina fotográfica Samsung NX1000
(This photo was taken with a Samsung NX1000 camera)
Gostaria hoje de abordar um pouco sobre um exercício de experimentação e da alienação proporcionada por nossas visões. Para isso, começo com uma história vivenciada por mim em uma das minhas análises de campo realizadas, para executar o meu projeto de pesquisa do mestrado.
Sempre monto a minha barraca na mesma localidade no extremo sul da Ilha do Cardoso, mas em uma das minhas estadias suspeitei de algo. Era normal reparar que entre o teto e o sobre-teto da barraca (um vão em que não há contato entre as duas superfícies) tornava-se abrigo para muitos insetos, mas comecei a reparar que algumas aranhas estava também a habitar.
Atraídos pelo calor da barraca e fugindo do vento, os insetos ficavam zanzando pelo vão. O cuidado que eu tinha era de nenhuma inseto, ao abrir a barraca, adentrasse nela. Era ainda mais cuidado com os mosquitos hematófagos, que tornam-se indesejáveis companheiros noturnos do sono. Contudo, retornando às aranhas, obviamente, a primeira hipótese que levantei, como um bom cientista, era a de que as aranhas estavam aproveitando a oportunidade de alimentos, sendo atraídas pelos insetos.
Vorazes e eficazes, a noite, quando ligava a lanterna dentro da barraca, via algumas teias dispostas prontas para capturarem alguns insetos, assim como certas redes de pesca que aguardam os peixes malharem nelas. Como em qualquer outro local, a predação das aranhas tem um papel fundamental para que se mantenha um equilíbrio ecológico. Basta imaginarmos quando alguns indivíduos armam as suas teias nos cantos de um cômodo de uma casa... Dependendo do tamanho da espécie da aranha e do tamanho da teia, determinadas quantidades de insetos serão capturadas. A mesma atividade de predação estava ocorrendo nesse pequeno vão entre o teto e o sobre-teto da minha barraca.
Desliguei a minha lanterna e adormeci em uma noite fria de inverno. Quando acordo no dia seguinte, senti que havia muita umidade, sinal de que quando abrisse a barraca pela manhã a condição do tempo estava fria e com muito sereno (pequena neblina logo de manhã ocasionada pelo aumento da temperatura e a evaporação da água). Contudo, para a minha surpresa, quando abri a minha barraca, algo muito interessante estava ocorrendo, que meus olhos não estavam conseguindo detectar nos dias anteriores. Não eram as aranhas apenas que estavam se utilizando da minha barraca para capturar insetos, mas minha barraca e eu que estávamos utilizando do território das aranhas! A minha hipótese inicial pode até ter tido alguma lógica, mas não correspondia a realidade dos fatos.
Como diria um antropólogo ecologista chamado Tim Ingold:
"Vivemos em mundos de emaranhamentos com diversas espécies. Processos de co-modificação e co-constituição estão a todo tempo ocorrendo entre humanos e diversos seres".
A foto que eu tirei e exposta nesse post é justamente no momento em que sai da barraca e fui surpreendido. A orvalho se precipitou nas teias de aranha, deixando-as evidentes aos meus olhos destreinados e me fazendo se sentir encurralado e com medo das aranhas. Notaram algo significativo e o ponto principal ao qual gostaria de chegar nesse post? O medo só emergiu quando a minha cegueira desapareceu!
Já pararam para pensar em como alienamos quando ficamos totalmente dependentes de nossas visões? Em alguns casos a nossa visão sobrepõe-se aos outros órgãos sensoriais. Todavia, alguma vez na vida você já ouvir falar de que uma pessoa com alguma deficiência sensitiva, os outros órgãos acabam ficando mais aguçados e habilidosos. Ex: Um cego que consegue escutar muito bem e um tato divino; um surdo que sente as mudanças de pressão no ar, enxerga os movimentos da boca de uma pessoa, etc. No mundo em que vivemos em muitas atividades (porque não dizer a maioria?) há uma supremacia da visão. Dos nossos olhos castanhos, azuis, verdes... Fico me perguntando, será que não fossemos tão alienados pela nossa visão nossos caminhos evolutivos seriam outros?
Muitas atividades que executamos nesse mundo corrido ministrado pelo capitalismo, não conseguimos desacelerar e parar para refletir em como nossas habilidades para essas mesmas atividades poderiam ser melhores moldadas se conseguíssemos desviar um pouco do caminho da supremacia da visão. Óbvio! A visão a importantíssima para o nosso bem-viver, mas não apenas ela.
Refletir e exercitar os nossos outros órgãos sensitivos, talvez também faria nós (humanos) a compreender melhor em como estamos intensamente emaranhados com diversos seres vivos essenciais para que estejamos vivos.
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