Texto de intervenção nas III Jornadas Pedagógicas da UNTL (Liceu, 18-10-2018)
Por: Francisco dos Reis de Araújo - Licenciado em Ensino da Língua Portuguesa; Estudante do 3º ano do Curso de Direito; Tradutor e Intérprete Jurídico; Premiado por pesquisa sobre a Língua Portuguesa no Ensino Superior timorense.
- Magnífico Reitor da Universidade Nacional Timor Lorosa’e, Professor Doutor Francisco Miguel Martins;
- Senhor Pró-Reitor dos Assuntos Académicos, Dr. Marcos António Amaral;
- Senhor Decano da Faculdade de Educação, Artes e Humanidades, Dr. Pedro Soares
- Senhor Diretor do Centro de Língua Portuguesa e do INL, Prof. Doutor Benjamim Corte-Real;
- Senhor Comissário Nacional de Timor-Leste no IILP, Dr. Crisódio Araújo;
- Senhores docentes, nacionais e internacionais;
- Caros colegas estudantes e ilustres participantes.
Foi com grande satisfação que recebi o convite para participar nesta mesa redonda, cujo tema, o português enquanto elemento da identidade cultural, é uma conferência das Jornadas Pedagógicas organizada por um grupo de estudantes do Departamento de Língua Portuguesa da FEAH/UNTL, com a colaboração do Centro de Língua Portuguesa.
O tema que se trata aqui já foi debatido logo nos primeiros anos da independência de Timor-Leste, o qual surgiu com algumas perspetivas antagónicas que se consideram como desafios quanto à afirmação da língua de Camões como um dos elementos da identidade nacional e cultural do povo timorense. Começo, portanto, por citar algumas dessas perspetivas que foram apresentadas pelo linguista australiano, Geoffrey Hull, num Congresso Nacional realizado em Díli, afirmando ele o seguinte:
“Todos os timorenses estavam unidos em relação à fundação do novo estado; divergiam, no entanto, quanto à questão da língua e da cultura. Neste momento, existem duas perspetivas antagónicas sobre a identidade cultural de Timor-Leste, e entre estas existe todo um leque de correntes e pontos de vista. Por um lado, os elementos da velha geração querem que o português seja a única língua oficial, e não prevêem qualquer tipo de estatuto oficial para o tétum ou para os outros vernáculos. No extremo oposto, estão os jovens que querem que apenas e só o tétum seja a língua oficial, manifestando-se deveras apreensivos em relação ao português.” - (Extraído da publicação TIMOR-LESTE: Identidade, Língua e Política Educacional – Texto original em tétum elaborado pelo Prof. Dr. Geoffrey Hull, Universidade de Western Sydney (Austrália), e pelo Prof. Dr. Benjamim de Araújo e Corte-Real, da Universidade Nacional Timor Lorosa’e (Timor-Leste). – Tradução para o português, Maria da Graça D’Orey).
Partindo da premissa destes desafios, tentarei apresentar as minhas perspetivas quanto à afirmação da identidade cultural e nacional do povo timorense para a qual o português constitui, sem dúvida, um elemento fulcral. E a base teórica que fundamenta a minha intervenção assenta na perspetiva de Geoffrey Hull, linguista australiano que se dedica ao estudo das línguas em Timor.
Assim, e com base no antagonismo supracitado, permitam-me viajar ainda um pouco para trás e refletir alguns cenários decorridos nos primeiros anos do nosso curso de licenciatura em ensino da língua portuguesa, aqui no Liceu. Ainda nos últimos dias tenho tido conversas com os meus amigos, jovens defensores e potenciadores para presente e futuro da língua portuguesa em Timor-Leste, e lembramo-nos perfeitamente que, entre os anos de 2005 e 2008, havia algumas discussões e opiniões divergentes entre alguns estudantes do Departamento de Língua Inglesa e do Departamento de Língua Portuguesa relativamente à questão do português como língua oficial e língua de identidade nacional e cultural. O ambiente não era assim tão amigável ao longo desses anos, havendo então falas e discussões provocativas nos corredores, sobretudo por parte de alguns jovens do Departamento de Inglês. Sabemos, pois, que foi no período em que ainda havia presença da UNTAET que o mercado de trabalho em língua inglesa era muito procurado. Então, o grupo que dominava mais o inglês não queria que o português se difundisse e competisse no mercado de trabalho. É o que consideramos como tentativas para impedir o futuro da língua portuguesa em Timor-Leste.
Mesmo assim, importa dizer que a sociedade está sempre em constante mutação. Por isso, a maneira de pensar e de agir depende também das circunstâncias em que se encontra e do tempo em que se vive, pois neste momento estamos já num contexto diferente em termos de “contra” e “a favor” da língua portuguesa. Conheço muitos jovens que na altura não gostaram do português mas agora estão fazendo esforços para aprendê-lo.
O que eu quero dizer com tudo isto é, para afirmar que a língua portuguesa é um elemento principal da nossa identidade nacional e cultural, em primeiro e no fundo, temos de reconhecer e aceitar que essa língua é nossa, e não é uma língua estrangeira.
O professor associado da Universidade de São Paulo, Brasil, e pesquisador da história do idioma português, Manoel Mourivaldo Santiago Almeida, afirma que “A língua é o principal elemento da identidade cultural de um povo”. Pois, através da língua ou da linguagem é que se vê e se conhece o mundo. Então, o tema propriamente dito trata-se de como as pessoas nos identificam culturalmente por meio da língua ou das línguagens, marcas e heranças portuguesas implantadas nas nossas veias e no nosso quotidiano.
Por isso, no que tange ao tema geral desta conferência, presente e futuro do português em Timor-Leste, eu diria o seguinte: o português é uma semente já cultivada neste pedaço da ilha há muitos anos e que, através do seu poder e prestígio, faz crescer o tétum e outros vernáculos do país. E como é que essa língua pode evoluir em Timor-Leste, no presente e no futuro? Neste sentido, Hull (sd. pg. 36) salienta que “como resultado da campanha de difusão da língua portuguesa durante a segunda metade do século XIX, o tétum e os outros vernáculos ficaram impregnados de expressões, vocábulos e estruturas sintáticas portuguesas”.
A abordagem sociolinguística não separa a tríplice língua, identidade e cultura. É um tema de abordagem muito ampla. O povo de um determinado país vive com a sua língua, cultura, crença, e outros valores prticados no seu dia a dia.
Do que falamos então quando mencionamos que a cultura do povo timorense é caracterizada pela língua portuguesa?
Veremos isto o mais adiante na PARTE II - disponível em: https://steemit.com/pt/@maliikun/parte-ii-o-portugues-enquanto-elemento-da-identidade-cultural-do-povo-timorense
Parabéns, seu post foi selecionado para o BraZine! Obrigado pela contribuição!
Olá, @brazine! Obrigado pela seleção do meu texto. Um abraço de Timor-Leste!
Re-steemed
Obrigado, amigo @maxjoy. Abraço
Olá @maliikun, que bom ver pelo steemit pessoas de Timor-Leste :)
Adorei a sua frase:
Ficarei à espera da PARTE II.
Abraço de Portugal!
Olá @portugalcoin, obrigado pela apreciação.
A parte II já está disponível em:
https://steemit.com/pt/@maliikun/parte-ii-o-portugues-enquanto-elemento-da-identidade-cultural-do-povo-timorense
Um grande abraço de Timor-Leste!