Caso ficcional para ilustração!!! Por mais que ficcional, muito comum na nossa sociedade.
Paciente chega a consulta,45 anos, com peso de 100 kg, altura de 1,60 m, relatando que tem Hipertensão Arterial Sistêmica. IMC: 39,1 - Obesidade
Relato:
-Não consigo controlar minha pressão, é genética e emocional, já passei por 10 médicos, tomei vários remédios, e ninguém consegue controlar minha pressão. Já fui na rezadeira, no pastor, no padre, pedi a Deus e nada. Acho que não tem jeito, me ajuda! Passa um remédio que ajuste minha pressão.
Durante coleta da história clínica e hábitos de vida, paciente tem um relacionamento conturbado conjugal, filho com dificuldade na escola, trabalha 12 horas por dia no Uber para pagar as contas, mas está preocupado porque o carro é de 2010 e precisa comprar um carro novo, mas não tem dinheiro, tem medo de ano que vem não poder mais trabalhar no Uber.
Faz uso de 3 classes diferentes de fármacos para controlar a pressão.
Saí do trabalho vai para casa, pega comida congelada faz, come tudo, por vezes após o jantar ainda faz uma pizza, porque ainda ficou com fome. Dorme às 01:00 porque fica assistindo Netflix, petiscando a geladeira, pensando nas preocupações em pagar as contas, comprar remédio, pagar plano de saúde da família, aluguel, água, luz, condomínio, TV a cabo e provedor de internet, fazer compras do mês, IPVA, IPTU, escola dos filhos...
Acorda ás 06:00 hrs para levar os filhos para escola, e começar o turno do Uber. Não sente fome de manhã, prefere ir trabalhando comendo amendoim, e comer direito a noite (comida congelada industrializada). E assim segue essa rotina.
O médico diz:
-Tem feito uso da medicação?
Paciente:
-Sim! Todo dia! Claro, tem dia corrido que esqueço um ou outro. Semana passada acabei esquecendo todos e fui parar na emergência. Na outra estava sem dinheiro e esperei sair também o pagamento, acabei tendo que ir a emergência.
Médico:
-Caro paciente, tem rever os hábitos de vida, cuidar da alimentação, diminuir ingesta de sódio, comer mais alimentos saudáveis, fazer atividades físicas. Fazer exames e acompanhamento regular. E tomar as medicações corretamente para podermos avaliar seu quadro melhor.
Paciente:
-Tá bom dr, então passa o remédio que tenho que tomar, muitos já falaram a mesma coisa. Só passa um remédio mais forte dessa vez por favor. Vou tomar jeito, agora vai!
O médico aumenta as doses do remédio, e diz que irá reavaliá-lo em 2 meses.
Após 2 meses paciente retorna.
-dr pressão ainda está alta. Fui na emergência três vezes esse mês. Não está dando, não sei mais o que fazer.
Médico:
-Me conta as medicações que você está tomando e o que tem feito no dia a dia por favor...
Paciente:
-Ah dr, aquela receita que me deu, acabei perdendo, voltei a tomar os que tinha em casa. Ainda não deu para mudar meus hábitos de vida. Ou trabalho, ou pago as contas dr. Só passa um remédio mais forte dessa vez.
Pura realidade, invés mudar os hábitos, tomar os remédios corretos na hora correta, colocar os filhos em um colégio público, mudar o sódio por frutas.
Pequenas coisas que a pessoa tem que criar consciência. É foda.
Me deu imaginação pra fazer um texto parecido voltado para minha área haha.
Exatamente. Não adianta tampar o sol com a peneira. Não quer dizer que seja fácil, mas enquanto não lidarmos com os problemas estruturais, vamos enxugar gelo, e fingir que um milagre irá acontecer... aguardo seu post! Até mais!
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Infelizmente essa é a realidade de uma sociedade que trocou o bem-estar, a qualidade de vida e a saúde pelos bens de consumo. Identifiquei-me com o texto pois já fui assim quando mais jovem, até que com a idade, entendi que o “ser” era muito mais válido e me trazia muito mais felicidade que o “ter”, dali para cá minha vida mudou.
Mas isso é reflexo de uma classe política e uma elite financeira que embutem na mente de pessoas despreparadas para a vida que a felicidade vem através do que você tem ou de que se pode comprar. Mudar essa realidade é difícil, para isso é preciso preparar as pessoas para a vida, mas quem detém o papel de preparar a sociedade são os que mais lucram com ela despreparada.
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Ótima reflexão e complementação. Um dos temas mais importantes da nossa época, o ser e o ter. A busca pelo que falta a cada um por natureza, nessa cultura da mídia de massa e dificuldade financeira, são alguns dos alicerces nessa confusão. O custo do ter, sem nunca ser, é caro, muito caro. Mas só é compreendido quando tem que pagar, pois custo vai muito além do financeiro. Nada paga o tempo vivido para ter, e é pior ainda quando não há mais oportunidade de ser, é adoecedor, pois somos para nós, mas a plenitude do ser é quando também somos para alguém.
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Uma breve complementação ao teu comentário.
Chega a ser paradoxal até, pois quando as pessoas se preocupam mais com o ser acabam tendo mais possibilidades de ter, o dinheiro meio que “’sobra” pois certos bens de consumo já não satisfazem mais como antes ou já não se dá mais tanto valor a eles.
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Certamente! Concordo plenamente! Tenho essa complementação que expôs como um pilar na minha jornada da vida!
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