#FILMOTECA - O sacrifício do cervo sagrado (The Killing of a Sacred Deer - 2018 - Yórgos Lánthimos)

in #pt7 years ago

Você conhece o trabalho de Yórgos Lánthimos? Caso não, talvez essa não seja a melhor forma de conhecer esse diretor grego que se equilibra entre a insanidade e a genialidade. Cultuado por seu primeiro grande filme Dente Canino (Kynodontas) de 2009 que mostra a vida de uma família que mantém os filhos em uma espécie de carcere privado através de estratégias psicológicas bizarras e diz que filhos só podem sair para o mundo de fora quando seus dentes caninos caírem (como se isso fosse parte da jornada biológica do corpo), ou seja, nunca. Ainda que o filme se passe quase inteiramente na casa, a sucessão de absurdos que ali se passam prendem o espectador de uma forma intensa para pouco a pouco arrasta-los para um fim caótico e visceral.

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Mas quem sabe, a melhor opção para conhecer Yorgos, seja com O Lagosta filme de 2015 que o colocou num patamar mais pop, talvez devido a qualidade da produção, edição, fotografia, etc. Talvez por maior alcance, agora que já é conhecido. Mas seja como for, O Lagosta é ainda assim um filme de Yorgos Lanthimos, ou seja, indigesto, absurdo e visceral. Não me prolongarei a falar sobre ele por que afinal preciso falar sobre seu mais novo filme, que é tema desse artigo!


O sacrifício do cervo sagrado.

É sempre uma experiência fascinante assistir um filme sem nem mesmo ter lido direito a sinopse, nesse caso, assisti apenas sabendo que era do Yorgos, mais do que uma garantia de que valeria a pena arriscar. E não deu outra.

A trama se inicia com essa família comum sendo apresentada ao espectador, onde Colin Farrell, o protagonista é um cirurgião, sua esposa Nicole Kidman, mãe de dois filhos saudáveis e bens de vida tem uma vida pacata e aparentemente normal. Porém Steven (Farrell) encontra-se diariamente com um garoto chamado Martin (atuação fantástica de Barry Keoghan). Mais tarde ficamos sabendo que os estranhos encontros dos dois ocorre por que Steven sente-se de certa forma culpado e empático com o garoto, que é filho de um falecido paciente seu. Steven não deixa claro, mas foi culpado pela morte do pai de Martin e por isso, bajula o garoto, que pouco a pouco começa a tornar-se mais próximo para por fim começar até mesmo a visitar a família de Steven e até mesmo se envolver com sua filha.

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ATENÇÃO, AS INFORMAÇÕES A SEGUIR PODEM SER INTERPRETADAS COMO SPOILER

Em determinado momento, já estando bem próximo da família, Martin encontra-se com Steven e fala:
-Você matou um de minha família, e agora eu preciso matar um da sua família. Vou deixar que você mesmo escolha qual prefere que morra e mate por conta própria, se você decidir por não matar nenhum, cada um deles irá adoecer e morrer. Primeiro perderão os movimentos das pernas, depois não conseguirão mais comer e por fim começarão a sangrar pelos olhos.

Naturalmente isso deixa Steven totalmente transtornado. Que absurdo! Já desconfiava das atitudes e comportamentos estranhos do garoto, mas não imaginava que tinha algum problema psicológico nesse nível. Porém, qual a sua surpresa ao perceber que seu filho não consegue mais andar. Seguem se cenas intensas do pai tentando persuadir o filho a largar mão de qualquer artimanha e a voltar a andar, pesado. Depois de um tempo, o garoto não come mais, pouco depois, a filha perde o movimento das pernas.

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Daí para frente o filme toma proporções intensas que flertam com o absurdismo e com o fantástico, sempre pesado e cada vez mais nauseante. O caos que a vida dessa família se torna é quase palpável e o enigma complexamente abstrato por trás de Martin faz o clima mais visceral ainda. Afinal de contas, como pode causar esse tipo de coisa nas outras pessoas? O que ele fez? Por que não para?

Os diálogos entre Martin e Steven são intensos e muito poderosos, angustiantes. Um final pouco confortante aguarda o aflito espectador antes da tela preta amortecer os olhos.

Definitivamente, O sacrifício do cervo sagrado é um filme interessantíssimo. Porém, para poucos, ainda que lento, longo e complexo, sua visceralidade e impacto fazem dele uma película de alto nível na filmografia do diretor e merece ser visto sem dúvidas!

The Killing of a Sacred Deer - 2018
Direção:
Yorgos Lanthimos
Orígem: Estados Unidos da América
Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte

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Fonte das imagens: 1, 2, 3 e 4


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Farrell e Kidman são impressionantes, assim como os atores que interpretam seus filhos, mas é o Keoghan de olhos redondos antes visto como o garoto muito ansioso para ir à guerra em Dunquerque, que deixa a impressão mais duradoura como uma figura inexplicável.

Altamente recomendado! Bela crítica! Sucesso!

Parabéns, seu post foi selecionado pelo projeto Brazilian Power, cuja meta é incentivar a criação de mais conteúdo de qualidade, conectando a comunidade brasileira e melhorando as recompensas no Steemit. Obrigado!

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Que resenha bacana! =)

A filmografia do Yórgos é incrível (e O Sacrifício do Cervo Sagrado com certeza está no pacote).

Eu vejo um futuro muito promissor para ele... Mas, os seus filmes dificilmente terão um apelo popular. Obviamente que não me refiro a isso como um demérito... Só que isso pode limitar as ofertas de trabalho para ele (considerando a realidade de que o tipo de filme que ele faz raramente consegue ter um bom desempenho nas bilheterias) e privar o cinema de suas futuras produções.

Valeu pela dica, acho que nunca assisti um filme do Yogos, vou dar uma chance.

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Nossa! Gostei dos outros filmes do diretor, terei que assistir a esse também. Parece muito carregado e forte. Obrigado pela "recomendação", meu caro!

Só de ler o filme aqui eu tive variados sentimentos contraditórios. Me deu vontade de ver, frio na barriga, vontade de não ver, curiosidade.
Confesso fiquei com um pé atrás. Não sei o que fazer nem sentir sobre isso hahahaha


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Não conhecia este sineasta, acabou de entrar na lista de prioridades do fim de semana!


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realmente parece bem difícil de ver, já viu sob a pele? Seu texto me lembrou este filme, também é um filme peculiar.


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também não conhecia este diretor, mas depois de ler sua resenha, sei sem sombra de dúvidas que vou assistir, e que são filmes que vão prender minha atenção do começo ao fim.