Micro dosagem de psilocibina. Uma pesquisa de potencial.

in #pt7 years ago (edited)

==ATENÇÃO. O CONTEÚDO PRESENTE NESTE ARTIGO NÃO INCITA QUE O LEITOR FAÇA QUALQUER EXPERIMENTO POR CONTA PRÓPRIA COM O USO DAS SUBSTÂNCIAS AQUI APRESENTADAS. O ESTUDO DO USO DA PSILOCIBINA AINDA ESTÁ EM NÍVEL PRIMÁRIO E POUQUÍSSIMO SE SABE DE SEUS PRÓS E CONTRAS, RECOMENDA-SE O ESTUDO APROFUNDADO EM LITERATURA CIENTÍFICA PARA COMPREENDER MELHOR O FUNCIONAMENTO DA MESMA NO SER HUMANO ANTES DE QUALQUER COISA.==

Hoje, seguindo meus estudos dentro da área dos Enteógenos, trago para vocês uma pesquisa de ponta. O uso de micro doses de psilocibina para o tratamento de distúrbios mentais, tais como a depressão, ansiedade, pânico e stress pós traumático.

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Como já relatei no Episódio 01 dos relatos, o Psilocybe Cubensis é um dos enteógenos mais populares conhecidos, é sabido seu potencial de alteração da consciência e seu uso tanto ritualístico quanto recreacional. Porém, já há alguns anos algumas pesquisas de ponta tem se tornado populares na psiquiatria experimental (não é o termo correto, apenas utilizo-o como um "senso comum"), onde tem-se observado um incrível potencial do uso de substâncias psicodélicas em micro dosagem como análogos/substitutos de medicações clássicas psiquiátricas em situações de crises emocionais e toda uma vasta gama de problemas dessa mesma dimensão.

Completamente fora do contexto até então abraçado pela enteogenia, o uso de substâncias psicodélicas fracionadas tem um viés clínico, de solução de problema e não de qualquer tratamento holístico espiritualizado. Com isso quero dizer que as pesquisas estão avançando para outra área, saindo da zona cinza de pseudo-ciência.

Nesse caso estou falando especificamente a respeito da Psilocibina, principio ativo do Cubensis e não de qualquer outra micro dose que também vem sendo pesquisada, como o LSD e o MDMA, até por que estes, queiram ou não, acabam tendo uma fama de droga mais forte que um cogumelo menos conhecido. Mas a base de pesquisa é a mesma, cabe apenas agora observar detalhes a respeito dos resultados e diferenças entre cada substância.

Vamos detalhar um pouco como funciona o conceito de micro dose

Uma experiencia psicodélica com cogumelos da espécie Psilocybe se baseia em mais ou menos 3 gramas (sendo essa uma experiência moderada), doses acima disso, como por exemplo 5 gramas são chamadas de "doses heroicas". Uma micro dose de psilocybe então é algo em torno de 0,3 gramas. Ou seja, uma quantia ínfima, porém ainda assim perceptível da substância.

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É importante dizer aqui que não estou falando a respeito de dose homeopática (vulgo placebo), mas sim de uma fração pequenina de uma substância psicoativa. Que tipos de efeito temos então com uma doses dessa? Alguma coisa muito próxima de um remédio psiquiátrico de mecanismo ISRS (Inibidor seletivo de recaptação de serotonina). Porém sem vários dos efeitos colaterais comuns no processo de introdução ou retirada do medicamento. A primeira dose já mostra seus efeitos positivos no paciente, com maior clareza de pensamento, alívio do "fardo mental", relaxamento, energia, bem estar, controle de seus hábitos, entre outras coisas. Naturalmente não estamos falando de milagre, e eu nunca fiz pessoalmente um estudo aprofundado com a substância.

Minha experiência pessoal com a microdose de psilocibina foi de utiliza-la como um suplemento para retirada de medicação psiquiátrica, em outras palavras, este método me ajudou a se livrar dos brutais efeitos de retirada da Venlafaxina, um medicamento maravilhoso e poderoso que me ajudou numa fase de depressão, angustia e falta de foco, porém quando decidi-me por abandonar o tratamento precisei enfrentar seus efeitos colaterais duríssimos, como choques elétricos nas juntas, principalmente pulso e cotovelo, dor de cabeça agressiva, como uma enxaqueca de falta de cafeína em proporção maior, sensação de formigamento no cérebro (?!), sensação de perda de controle da própria consciência (??!!) entre outras coisas. A psilocibina em microdose foi ingerida dia sim dia não, enquanto diariamente eu ia diminuindo a dose da venlafaxina em micro-diminuições (o processo levou duas semanas e meia), dessa forma eu conseguia atenuar toda a crise, que era mais intensa nos dias que não utilizava a psilocibina. Na fase final quando faltava muito pouco para terminar a venlafaxina eu abandonei o suplemento de psilocybe para evitar qualquer acomodação (para não dizer dependência) dessa outra substância, porém é sabido na literatura médica que psilocibina não causa dependência de forma alguma, além de que a própria microdose precisa ser melhor estudada, dado que sabe-se que a psilocibina gera tolerância no ser humano, ou seja, depois de algumas doses de 0,3 g, possivelmente precisaremos de doses de 0,5 g para ter o mesmo efeito. Nenhum grande problema dado que isso é igual em quase todo medicamento psiquiátrico.

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Porém, como eu disse, é uma pesquisa muito de ponta, pouquíssimo se sabe a respeito desse funcionamento, de questões de tolerância, questões de tempo de uso, malefícios e benefícios. Apesar de já existir um time de pesquisadores debruçado sobre o assunto, a microdose ainda é um viés experimental, ainda que científico. Muitas pessoas (como eu) souberam da existência desse conceito e decidiram-se por conta própria experimentar as substâncias, inclusive pesquisadores procuram por usuários do método para que estes respondam perguntas a respeito de seus experimentos. Existem cartilhas, kits de produção de microdose, sites a respeito. É algo que vem crescendo muito e certamente irá ganhar espaço em algum momento.

É fundamental deixar claro que estamos de fato saindo de qualquer área de uso recreacional. A pessoa que procura uma microdose (seja do que for) não está buscando dar risada e viajar. É muito mais semelhante ao conceito das E-drugs, ou em outras palavras as substâncias de aprimoramento cognitivo, de potencialização da percepção e cognição, algo que muitos procuram através da Ritalina por exemplo. Naturalmente que um não tem a ver com o outro, mas ambos buscam uma melhoria. A psilocibina porém, abraça um viés mais completo, onde visa o bem estar do paciente de uma forma geral. Ou seja, pessoas utilizam não apenas em tratamentos específicos para depressão ou pânico, mas também para corrigir níveis de humor e stress da sua semana.

Certamente iremos ver grandes notícias a respeito ainda.


Para ler mais sobre o assunto aqui no Steemit:

Relatos Enteógenos: 00, 01 e 02

Fonte das imagens: 1, 2 e 3


Obrigado por ler!


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Parabéns, seu post foi selecionado pelo projeto Brazilian Power, cuja meta é incentivar a criação de mais conteúdo de qualidade, conectando a comunidade brasileira e melhorando as recompensas no Steemit. Obrigado!

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Muito interessante esse assunto. Acredito também ser interessante pesquisas nessas substâncias, e essa direção talvez seja um vertente da diminuição do preconceito, e isso é fundamental para pesquisa científica. Infelizmente a pesquisa científica nos dias de hoje, são movidos pela indústria e lucro. Ainda acho cedo para se ter alguma opinião, e como será o uso ou indicação. Existem quadros que drogas que alteram a percepção são proscritas. Hoje o caminho da medicação é para diminuir sintomas específicos, tendendo a medicações cada vez mais seletiva a receptores. Os ISRS já são uma evolução na seletividade de receptor, e ainda assim dependendo do ISRS, não é tão seletivo. Porém são uma classe em evolução a classe anterior conhecido como triciclicos. O que você sentiu, parece ser o que chamamos de Acatisia, um efeito colateral comum a essas medicações, assim como digesan, plasil, e outras medicações que atuam em receptores cerebrais. Mesmo assim acho que é um campo que precisa de estudo, de entendimento sobre suas indicações, e suas consequências. Não recomendo uso, pesquisas de efeitos de curto e longo prazo devem ser importantes também. Para medicar alguém tem que ser muito criterioso, e saber o que se espera da medicação naquele indivíduo em específico. Hoje já vivemos uma epidemia de uso prescritivo de múltiplas medicações, e automedicação. Os benzodiazepinicos são drogas devem se ter controle maior, mesmo sendo de controle especial e tarja preta, o controle de um enteogino deve ser também discutido. Torço para que se estudem essas medicações e tragam evidências fortes de seu uso a curto e longo prazo, suas indicações, contra indicações, em uma ampla população de genéticas diferentes. Prescrevo medicações que tem-se evidências bem consolidadas historicamente e junto a clínica e experiência pessoal, assumindo os riscos inerentes ao uso de uma droga, onde todas tem risco de efeitos colaterais, conheço os efeitos, é uma grande responsabilidade, por isso acredito que ainda é cedo para uso de substâncias como os enteoginos na medicina. Agora os usos fora área médica, cabe ao direito individual. Essas posts são muito bons. Eu mesmo conheço muito pouco de enteoginos, conheçi mais a partir de seus posts, e conteúdos que trouxe. Talvez em um futuro próximo quem sabe sai alguma pesquisa que traga uma clareza maior e que traga benefícios a indivíduos possam fazer seu uso.

Obrigado pela leitura e comentário @matheusggr! Sempre importante sua visão clínica e embasada. Certamente faltou um pequeno aviso nesse post e irei edita-lo agora mesmo. Por que, primeiramente trouxe o tema como curiosidade da evolução da pesquisa de uma substância que até pouco tempo atrás era vista apenas como droga ilegal e recreativa, mas hoje toma novos rumos. Porém, não só por ser conflituoso com a clareza de leis, mas também por questões de pouquíssimo estudo forte e confiável, a substância não deve ser consumida como REMÉDIO. Ela está ainda na área de experimento pessoal sem comprovação (necessária e também da comprovação inutil burocrática). Devido ao que se sabe até agora das poucas pesquisas grandes e do vasto repertório de relatos anedóticos e experimentais, a psilocibina utilizada na forma de microdose está num patamar muito semelhante ao das ervas fitoterápicas, que contém nítidamente princípios ativos, mas que por N motivos não foram estudadas a fundo o suficiente ou não tiveram importância suficientemente relevante para tornarem-se uma medicação tradicional.
Sem dúvidas é cedo, mas dentro das pesquisas mais de ponta, hoje podemos pensar nessa substância como promissora.
Caso eu encontre alguma pesquisa científica embasando esse método de utilização eu lhe passo por discord ;)

Abraço!

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@thomashblum adorei seu conteúdo! Será que posso compartilhar o link do seu artigo por favor??
Nossa o seu artigo é super completo comparado com o meu... E você fala super bem! Gostaria muito poder enviar as pessoas com dúvidas para ver seu artigo.. se você me autorizar..?! Parabéns! Gostei muito ler a sua história também! Abraço 😘

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