Apesar de ter chegado à conclusão, como muitos outros, mas independentemente, de que a partir de certo nível de habilidade Quake se torna similar ao xadrez, ddk foi o primeiro que vi sugerindo uma comparação com o poker*.
No fim das contas, me parece que é um misto: como no xadrez é quase totalmente determinístico e com balanceamento equilibrado -- há poucos elementos de aleatoriedade e desigualdades no ponto de partida (o local dos spawns sendo um dos únicos); como no poker boa parte do jogo está em prever o comportamento do oponente e gerenciamento de riscos, pois apesar de determinístico não se consegue observar todo o mapa e stats do oponente -- no xadrez todos competidores têm acesso imediato a todo o tabuleiro, a toda ação, já no poker cada competidor só tem acesso imediato ao que é seu enquanto quase toda ação do jogo é acessível apenas indiretamente, por inferências e gerenciamento de riscos.
É difícil uma pessoa de fora entender como isso pode acontecer num jogo de ação -- principalmente com o preconceito em cima dos videogames --, mas o ponto principal para explicá-las talvez seja frisar que deve-se assumir de jogadores de alto nível que suas habilidades sejam "perfeitas", portanto, por se tratar de um jogo de tiro em primeira pessoa, se um competidor consegue ver seu oponente, na maioria esmagadora dos casos, seu oponente também consegue vê-lo de volta. Isso significa que a cada momento de interação ambos competidores estão se expondo ao dano ou à derrota, o que faz com que os jogadores de alto nível, que nunca erram um tiro -- ou, melhor, que tem uma taxa de acerto de dano alta, constante e pré-estabelecida, i.e., confiável --, apenas se permitam interagir -- expôr ao oponente qualquer informação a seu respeito, como os sons dos seus movimentos -- se isso faz parte de uma tática ou estratégia ulterior, o que faz com que toda ação de verdade esteja, como no poker, no não visto, no que se pode inferir a partir das informações contidas no mapa e que o oponente expõe ou no gerenciamento de riscos a partir destes e de dados estatísticos globais.
Some-se a tudo isso o fato de que Quake não é um jogo em turnos, mas um jogo de ação e de habilidades motoras finas, e tem-se indiscutivelmente um dos jogos competitivos mais profundos e excitantes de todos os tempos.
*Thorin, "The E-Sports Historian", entrevistando Daniel "ddk" Kapadia a respeito dos seus pensamentos sobre Quake, principalmente Quake World: