por Danielli M. Arpino [contribuidora]
Se devemos, ou não, extinguir e/ou reprogramar predadores para evitar o sofrimento dos animais predados, é uma questão moral e de Ética Prática, logo, um problema filosófico a ser discutido. Mas de que maneira isso se torna um problema filosófico propriamente dito?
Segundo o filósofo britânico David Pearce, em seu artigo Reprogramar Predadores (2009), uma biosfera sem sofrimento é tecnicamente viável. Em O Projeto Abolicionista (2007) o filósofo defende a abolição do sofrimento em todo mundo vivo e a inadiável urgência moral do projeto abolicionista, sejamos ou não adeptos de um utilitarismo ético de qualquer tipo. Dessa forma, a discussão sobre reprogramação e/ou extinção de predadores se insere nesse quadro de defesa da abolição do sofrimento; embora, cabe salientar, não seja necessário que estejamos comprometidos com esse projeto tão ambicioso para defendermos a reprogramação e/ou extinção de predadores.
A preservação de espécies é um tema amplamente divulgado e apoiado em diversas esferas sociais. Uma das motivações mais citadas para esse tipo de ação é a ameaça da humanidade frente à sobrevivência das espécies. Segundo um estudo recente (Revista Science, 2014) as espécies estão se extinguindo pelo menos 1.000 vezes mais rápido do que o fariam sem a influência humana. Os esforços humanos para preservar espécies em extinção geraram, inclusive, uma subdisciplina científica, a Biologia da Conservação, que considera a extinção de qualquer espécie um desastre para a natureza.
No entanto, o filósofo David Pearce se opõe a essa noção axiomática de preservação irrestrita de todas as espécies, levantando algumas questões importantes para essa discussão, como, "Qual deveria ser o destino último de espécies icônicas como os grandes carnívoros?":
Na sua maioria as cerca de 50.000 espécies vertebradas do planeta são vegetarianas. Mas entre a minoria de espécies carnívoras encontram-se algumas das mais bem conhecidas criaturas do planeta. Dever-se-ia permitir que estes assassinos em série continuem a predar indefinitivamente outros seres sencientes? [PEARCE, David. 2009]
Fica claro que, a questão que o autor traz a discussão é a de que, uma vez que devemos estender nosso círculo de considerações morais aos animais sencientes — vide Peter Singer, Tom Regan e outros filósofos que trataram da questão animal na Ética — deveríamos também estender nossas considerações morais e preocupações com o bem-estar dos animais selvagens. Sendo assim, o autor propõe a reprogramação de predadores e/ou a extinção desses para evitar o sofrimento dos animais que diariamente são mortos de forma cruel na natureza selvagem.
Certamente, é inquestionável, que não temos, ainda, nenhum vislumbre de tecnologias próximas capazes de ter a acurácia necessária para levar a cabo um projeto tão delicado e complexo como esse. No entanto, segundo Raymond Kurzweil, célebre cientista e pesquisador futurista, autor do livro The Singularity Is Near: When Humans Transcend Biology (2006), uma vez que a tecnologia progride de forma exponencial, estamos próximos a um salto qualitativo de avanço tecnológico extremamente robusto que gerará inteligências artificiais que ultrapassam as capacidade de inteligência humana — evento comumente chamado de “singularidade” — o que poderia nos dar condições de realizar esse projeto de intervenção na natureza, a partir de cálculos precisos feitos por super computadores, de forma segura.
Contudo, ainda que não aceitemos essas previsões futuristas, é inegável que, se de fato algum dia tivermos tecnologias boas e seguras o suficiente para reprogramar e/ou extinguir predadores de forma que possamos gerir a economia da natureza sem causarmos nenhum desastre natural, a questão continua posta: temos o dever moral de fazê-lo? Se não, por quê?
Não raro, a filosofia antecipa discussões importantes para compreendermos o mundo e pensarmos o futuro da humanidade. A exclusão dos animais selvagens do nosso círculo de considerações morais é injustificável, porém se dá pela naturalização do sofrimento desses animais - ou o apelo a natureza -, a falta de tecnologia para intervir de forma segura na rede complexa de sistemas da natureza e, até mesmo, pela ineditez de tal ideia. Contudo, amanhã o cenário tecnológico pode ser favorável a essas intervenções, sendo assim, o problema filosófico em questão é de ordem moral e gera uma implicação de ação prática:
Se um dia pudermos intervir para evitar o sofrimento desses animais, quais são as justificativas que temos para não intervir se não o preconceito a favor do status quo?
Trabalho de aula cujo o objetivo era apresentar um problema filosófico, em no máximo mil palavras, para a disciplina de Introdução à Filosofia do curso de Filosofia da UFRGS
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