Tristeza, sofrimento, depressão, ansiedade, suicídio e a volta por cima.

in #vida7 years ago

Eu sobrevivi
É, eu sobrevivi, ainda bem. Apesar de não ter tentado me suicidar nenhuma vez, eu pensei muito nisso. Pensei muito mesmo, constantemente durante alguns meses. Esse texto é sobre isso, mas principalmente como eu sai dessa espiral caótica que, inevitalmente, me levaria para a morte. Só que eu não morri. Eu sobrevivi. E agora estou mais vivo do que nunca.

Apesar do texto não propor nenhuma solução, fórmula para o sucesso ou para a cura de transtornos mentais, espero que ele seja motivador, que ajude a mostrar que problemas são solucionáveis.

Como tudo começou

O relato

As coisas começaram a ficar difíceis em 2013. Estava me organizando para casar e atravessando muitos problemas familiares de ordem religiosa. A minha esposa, na época namorada, estava ajudando muito a segurar as pontas, mas ela não tinha como dar conta de tudo. Tinham coisas que fungiam do nosso controle. Além disso, tive muitos problemas ligados à violência: diversos assaltos e um sequestro relâmpago. Acho que a ficha disso caiu por completo ainda no ano de 2013, eu estava me sentindo completamente vulneravel e exposto. Não conseguia sair na rua depois das 17 horas. Por causa desse problema, deixei de visitar amigos e a interpretação foi a de que eu os tinha abadonado - estavam enganados. Era só o começo do meu martírio.

2014 chegou e com ele um novo emprego, mas o pânico continuava e eu precisava disfarçar para mais gente. Também foi o ano em que me casei: a adaptação foi mais difícil do que eu imaginaria. Nada ligado essencialmente à convivência com Aline, mas com o começo de uma nova vida. Casar é difícil pra caralho, quem não casou nem imagina. Eu chorava toda vez que ia na casa dos meus pais. Meu sentimento era o de traição. Achava que eu os tinha abandonado minha mãe, pai e irmão num momento ruim. Foi aí que eu comecei a perder o sono. Dormir nunca foi tão difícil. Passei noites e noite num quarto fechado olhando pela janela do prédio. Eu ainda não estava pensando em me matar, mas já checava se a grade estava firme mesmo >Hoje eu vejo que era o meu inconsciente checando a segurança.

O ano passou rápido, mas os problemas só estavam começando.

2015 e tudo estava destruído, mas começando a se organizar. Já conseguia ir na casa dos meus pais. Ainda chorava, mas já conseguia ir de novo. Até que um dia eu chego em casa e o telefone toca. Era o meu irmão e ele disse que a minha avó estava morta. Com certeza vocês não sabem, mas eu era muito próximo; fui na casa dela praticamente todo final de semana durante toda a minha vida. Foi um período muito, mas muito difícil mesmo, e parte dele é narrado no livro "tirando a camisinha da alma na noite fria de Alcântara".

A perda da minha avó foi foda. A gente nunca tinha perdido alguém tão próximo, foi muito violento. Meses depois o meu tio morreu. Para mim, a dor foi menor se comparada com a dor da partida da minha avó. Mas para a minha mãe foi mais um peso. Isso aumentava emminha impressão de que eu os tinha abandonado. Eu estava sofrendo pra caralho, mas ainda iria piorar muito. em meados de 2015 eu perdi 50% da minha renda fixa. Estava começando a dever.

Em 2016 eu perdi, de novo, 50% da minha renda fixa no primeiro mês do ano. As contas continuaram chegando e em junho eu sai do meu antigo emprego. Os seis meses seguintes foram sem nenhuma renda entrando. Nada. Zero. Comecei a dever mais do que poderia pagar. E aí eu comecei a pensar em morrer de verdade. Já não conseguia sair na rua, nem pegar o elevador do prédio. Só descia com o cachorro de madrugada, porque assim ninguém me veria e eu não me sentiria julgado. Estava paranóico por dever o condomínio e achava que todos me cobravam o tempo todo. Não dormia de noite, nem de dia. Ficava imaginando quando cortariam a luz ou a água. Nessa época eu já não visitava mais ninguém e não pegava mais metr, que decidi parar de pegar porque estava começando a me sentir impelido a pular na frente do trem.

Um dia cortaram a nossa luz. Chorei que nem criança ajoelhado no chão da sala. Pensei em me matar pulando do vigésimo andar, mas sempre que pensava meu cachorro estava do meu lado, pulando na minha perna. ninguém entende a minha relação com o cachorro, é por isso. Ted é o meu anjo da guarda. Além disso, sempre que eu pensava, a imagem da minha família chorando vinha à mente. Não podia abandoná-los de jeito nenhum. A minha esposa chegou em casa nesse dia e riu: ela tinha conseguido uma grana em um trabalho freela, mas tinha esquecido de pagar a conta de luz. Menos mal, no outro dia a gente teria... Seguimos a vida. Naquele dia a gente comeu pizza e se divertiu.

O ano não deixava de me surpreender e eu perdi um grande amigo, um dos importante. Rompemos. Foi bastante violento para mim. Ainda é. Vamos falar de outra coisa.

No primeiro mês de 2017 eu estava devendo tudo o que você pode imaginar, mas em fevereiro começaram a entrar uns trabalhos e eu fiquei super feliz. Trabalhei três meses em um projeto, não recebi. Dei aulas por seis meses, não recebi. Sai do meu trabalho fixo ( eu tinha arrumado outro emprego) porque não conseguia mais desenhar. Resultado: estava falido, devendo todo mundo e não conseguia mais desenhar. Que beleza para um desenhista, não? para a minha sorte, a literatura nunca me abandonou. Escrever foi a única expressão que se manteve nesses dias. E você não sabem como isso me ajudou no vestibular: tirei "A" na primeira fase da UERJ. Obrigado, literatura. Obrigado, livros.

Em agosto de 2017 eu comecei a dar a volta por cima e mudar o quadro. Mudamos de casa. Me livrei do que pesava. Dobrei o número de plantas aqui em casa. Aprendi jardinagem. Tatuagem. Escrevi seis livros. Lancei três. Reatei nós de amizade. Me desculpei com todos e todas. E o principal: desacelerei e dei tempo ao tempo para curar as feridas. A vontade de morrer aos poucos deu lugar para a vontade de viver e um meme (não sei se posso chamar assim, por ser apenas uma imagem de facebook.) me ajudou muito, ele dizia assim: você sobreviveu a todos os seus piores dias até hoje. Guardei isso na mente desde então.

2018 chegou e trouxe novidades: passei pra UERJ. Artes visuais, licenciatura. Sou o calouro mais velho do instituto de artes. Estou animado como fiquei quando entrei no ensino médio. Os trabalhos estão rolando e aos poucos eu retomo um constume que me é vital: visitar quem eu amo. Estou fazendo aos poucos, eu sei, mas é um marco definitivo na minha volta por cima. O afeto do café, das conversas, da bebedira, de falar besteira, ver filme e etc me aqueceu. Os dias voltaram a ter luz. Ainda estou pagando as dívidas que acumulei, mas estou grato.

Hoje eu olho pro céu do quintal aqui de casa e me emociono. Não é nada, eu só estou vivo.

E isso é legal pra caralho.

Um agradecimento especial para a Aline, minha esposa, uma rocha. Como eu am essa mulher, puta que pariu.
Agradecimento aos eus pais e ao meu irmão.
Um beijo em todos.

Felipe Coutinho

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