Diálogos - Economia e as soluções mágicas

in #pt7 years ago
Já era perto da hora de ir embora, mas o papo com ele estava fluindo interessante, é minha única experiência como visita hoje em dia. Muitas vezes não sobra tempo para esse papo descontraído tomando um vinho ou fumando um cachimbo. Gosto bastante de ir na casa desse amigo. Escutar alguns discos, trocar ideia sobre cinema, sobre livros, ideias sobre ideias, é uma pessoa muito estudada, sua casa é uma biblioteca, é incrível. Porém quando chegamos na estante de economia e política vemos uma preferência total, completa para leituras de esquerda, a ponto de sobrar nem espaço para estudar a direita, nem que seja para refutá-la. Aliás, até tem um ou outro do que no passado era chamado de direita, como por exemplo Adam Smith, e coisas do tipo, mas é só...

Parte de mim sempre tinha o desejo de provocar determinados temas quando estou na presença dele, por que sou curioso, gosto de entender, de aprender, mas também tenho minha visão crítica já se formando, onde nem tudo eu aceito, porém ouço com respeito e cuidado, por que sempre posso aprender mais. Enquanto enrolava um cigarro com um tabaco orgânico aqui da região vizinha decidi por puxar novamente aquele papo complicado a respeito de liberalismo econômico, conservadorismo e tudo aquilo que ele repudia e tenta argumentar contrário com muita indignação. Mas meu papel ali era apenas fazer perguntas, eu não tentava afirmar, ainda que as vezes minhas perguntas soem comprovações de que penso oposto a quem estou questionando.

-Minha única crítica ao capitalismo, é que não posso aceitar que enquanto eu esteja aqui tendo tudo que preciso enquanto tem gente morrendo de fome, não tendo nem onde dormir, isso não dá pra aceitar!

Dizia ele, e continuou:

-Seria necessário uma reforma para melhorar a situação de emprego para todos, acabar com esses sub empregos, essas leis que protegem empresas sangue suga como as empresas de fast food, etc.

E eu pergunto:

-Cara, entendo o que quer dizer com subempregos como os dos fast food. Mas será que, devido ao nível que estamos hoje, sabendo que estamos mal. Melhor do que 100 desempregados, seria termos 100 subempregados? Será que você pode responder por um pai de família que está passando necessidade e aceitaria na hora um emprego qualquer no lugar de um desemprego?

-Não! Isso é inaceitável, essa é a premissa da direita, fazer o homem aceitar qualquer coisa, subir em cima da sociedade! Isso só vai reforçar o comportamento das corporações imensas e gananciosas. No lugar dessa reforma nós temos que fazer o contrário! Precisamos que todos tenham MENOS horas trabalhadas e MAIORES salários!

E eu impactado com o exato retrato absurdista caricaturado por Ayn Rand em A Revolta de Atlas sendo expressado em minha frente numa opinião sincera e com paixão, pensei um pouco enquanto soltava a fumaça lentamente.

-Ok. Mas diminuir o tempo de trabalho e aumentar o dinheiro de cada funcionário. Sendo que SEM fazer isso já estamos no limite da economia. Como espera que surja esse montante necessário para calçar esse novo paradigma econômico?

E com uma sinceridade e um indisfarçável olhar de: "Como você não pode saber de algo tão óbvio?", ele responde:

-Mudando a consciência de todos os patrões ué!? É só as pessoas pararem de ser ambiciosas! Se todo empreendedor abdicar parte de seu lucro, isso dará certo!

E foi nesse trecho do diálogo que eu percebi por que a visão coletivista não funciona quando é apaixonada e cega. Por que parte de um pressuposto que a qualquer momento uma mudança consciencial coletiva planetária irá acontecer baseada em suas próprias premissas de "o que é o correto" e que isso (e só isso) fará nossa sociedade seguir em frente, crescendo. Acho que aqui tem gente muito mais estudada que eu em economia e política para compreender que nem preciso concluir esse raciocínio com qualquer refutação à solução proposta por meu amigo, não por que ela é utópica (mudar a mente do outro baseado nos preceitos pessoais), mas por que viver esperando uma solução inalcançável ao invés de trabalhar com o que se tem (e com as melhores ferramentas que tivermos) é um absurdo.

Definitivamente tem alguns assuntos que não valem a pena ser discutidos com paixão, principalmente entre amigos, por que não geram mudanças. Dialogar a respeito do tema é sadio, mas quando percebemos a fixação de ideais e utopias seja para um lado quanto para o outro, nada vai sair dali. Não vale a pena criar rancores baseado em ideais pessoais, eu acho...

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Obrigado por ler!


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eu tinha muitos amigos de esquerda, e hoje eu tenho apenas dois, porque são os únicos que não pessoalizam a conversa.
Gosto de conversar com eles, porque assim como eu, eles estão em constante leitura de documentos, livros e arquivos e tem uma gama muito grande de conhecimento para discutir. Já discuti com coisas como, preconceito, salário mínimo, entre outras coisas. É interessante entender o contexto deles e verificar que eles acreditam que nós, capitalistas estamos interessados primeiramente no dinheiro. Na verdade, o dinheiro é consequência de outra coisa que a gente procura, que é liberdade. Eles querem mas não querem a liberdade, querem a liberdade para as pessoas fazerem aquilo que eles acham que estão certos, e é isso que acaba ferrando com tudo. Fiz um dos meus amigos de esquerda vir para a direita com uma simples pergunta.

Por que você acha que o seu jeito é o certo, e não o jeito que a pessoa acha que é certo? Ela é uma pessoa tão burra que não sabe o que é melhor para ela? Se isso é verdade, será que você não seria uma dessas pessoas? O que te faz ser melhor que ela, sabendo que o que você comenta é que você não é melhor que ninguém?

Quando confrontado com essa série de perguntas, naturalmente o pessoal da social democracia, entra em parafuso, porque eles possuem dois postulados que negam entre si, que é, todos somos iguais e todos precisam pensar como eu penso.

A Revolta de Atlas, é mais ou menos o que eu penso... Ninguém pode dizer que é melhor que ninguém, todos devem ter a liberdade de se foder pela tomada de decisão ruim, e se beneficiar de todas as tomadas de decisões corretas.

Concordo contigo Roberto. Dá pra ver a fragilidade da esquerda de cara. Inclusive tem aquela frase ótima que pra derrubar a esquerda é só deixar ele atuarem, eles se auto destruirão. O que inclusive pode ser visto no Revolta de Atlas de uma forma meio exagerada até.
Porém, sinceramente evito entrar em "debates" e tentativas de refutação por ser muito jovem nesse assunto, e também por que tenho uma veia taoista muito forte que diz: -Deixe estar, cada um sabe o que quer. Você não vai mudar a opinião de uma pessoa que é sólida o suficiente para comprar e ler livros de esquerda por mais de 20 anos.

@thomashblum, eu entro em debates porque gosto de entender o lado da outra pessoa e testar as minhas argumentações, até porque, foi por essas razões que sou quem sou hoje, refutaram meus argumentos e dai fui melhorando e buscando novos horizontes hehehe...
Mas é aquela coisa, não quero que a pessoa mude de opinião, apenas quero reforçar a minha, e garantir que realmente o que eu estou querendo é realmente aquilo que eu realmente quero, a liberdade acima de tudo.

Certo! E concordo plenamente. Acredito que nas proporções certas, o debate tem poder fundamental e deve sim rolar. Quem sabe quando eu estiver mais estudado nos temas eu possa praticar também, hehe!

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O que me preocupa é o tom revolucionário do discurso, a agressividade disfarçada, a vontade de mudar a ordem das coisas: "mudar a consciência universal". Isso tudo é perigosíssimo, é o que justifica a barbárie e a repressão em uma razão pretensamente superior, em um bem comum que justifica qualquer ação, sempre com a ideia de que é possível trazer um paraíso terrestre para nossa realidade. Muito perigoso isso.

O tom apaixonado revolucionário é sempre perigoso. Tenho muitas poucas certezas a respeito da economia, de certa forma sinto-me um daqueles telespectadores de futebol dando palpite. Mas o que sei é a respeito do comportamento humano e da ilusão do pensamento mágico. E isso fica muito claro na expectativa utópica de novo mundo livre do comunismo/socialismo.

Seu amigo é religioso? Não sei porque mas uma solução que depende da moral dos eventuais opressores me pareceu ingênuo, talvez influência de alguma fé... Valeu! Sucesso e boa sorte mais uma vez!!

Ele já foi espírita, Wagner. Hoje em dia é apenas aberto a possibilidades e não tem vínculo firme com nenhuma religião, mas se baseia em alguns preceitos espiritas sim. Sendo que um deles é a restauração planetária né, um processo evolutivo de purificação onde só os espíritos elevados vão conseguir se manter firme aqui na terra, e os inferiores irão para planetas no nível deles.
Mas o engraçado é imaginar a mistura entre a visão e conceito do comunismo que naturalmente é ateísta e cético junto com uma esperança de mudança de consciência global em prol do próximo. Não que o homem não vá mudar ou não queira mudar. O que é estranho é pensar que existe um mecanismo regendo essa mudança, como uma onda necessária que vem e dissolve as coisas ruins.
Até questionei ele sobre a questão do estado laico em determinado momento, mas ele falou que "não é bem assim".

Nun plano neutral, ja que non son nin de dereitas nin de esquerdas, senon todo o contrario, plantexo o seguinte:
Ningunha pessoa pode chegar o mundo sen a garantía da súa educación, manutención e saúde.
Poidera ser que atopense solucións odiosas (moi mundo feliz) tras esta premisa ... mais as humanas e os humanos non podemos vir o mundo para seren buscadores de sobras nos refugallos dos outros.
Mais ainda, a automatización dos procesos farán desaparecer os postos de traballo tal e como os conhecemos, e non, non serán criados tantos empregos como os destruidos.
Pose ser que o tempo de falar de unha Renda Básica Universal (ou de subsistencia) para todas e cada unha das pessoas nacidas, de jeito que a alimentación, vivenda e saúde estén garantidas.
...
ainda que me temo que isto está para darlle algo mais que unhas voltas.
Saúde.

Salve Freyman! Como vai?

O conceito da renda básica universal é muito interessante, e já foi proposta algumas vezes por aí, não é mesmo? No caso não universal, mas onde todos no país receberiam. O que vemos é que os únicos que propuseram tal método, já estavam em um nível econômico onde acharam que isso não era correto ou necessário.
Muitos dizem que a psicologia de achar que precisa trabalhar para ter as coisas é de certa forma um tanto religiosa, e muitas correntes não seguem nessa visão. Mas o trabalhar por dinheiro é apenas um fragmento de um sistema intrínseco ao homem. O de produzir algo a partir de suas mãos para sua própria vida. O trabalho natural, vamos dizer assim.
Mesmo em comunidades que não utilizam-se de dinheiro como base principal veremos gente que tem tudo planta tudo, é caprichosa, constrói, cuida e vive e veremos pessoas desleixadas, morando em barracos e sem força mental para plantar a própria comida. É muito estranho negar que existe gente disposta e gente indisposta, capaz e incapaz. O que penso é que acima de qualquer conceito de renda universal, precisamos mesmo é de uma educação brutal, intensa, pura, lá na raíz, no berço. Uma mudança sem precedentes na cultura social. Mas isso, claramente é impossível em escala planetária. Por isso a importância de cada país se cuidar e se melhorar sem expectativas mundiais.

Saúde @Thomashblum !!
Igual non expliquei ben, pero claro que o decir RBU pretendo seja artellada por cada elemento político (chamemos estado) artellando o reparto dos seus recursosen función do seu orzamento.
Coincido con vç nas diferencias nas pessoas e no seu carácter.... (De feito poider ser que a especie humana estivera se poidera representar como unha campá de Gaus onde un extremo marcara os mais osados e intrépidos, e a outra os menos fortes mentalmente) ... ainda así creo que un humano non pode (¿?) vir para ó mundo sin ter súas necesidades básicas cubertas.
Pode ser que no mundo 4.0 sexamos quenes (a humanidade) de darlle volta ás realidades de inxusta distribución grazas as mudanzas no mundo do traballo e a descentralización.
Necesito revolcarme na teoría e releer tamén eses posts que comenta para refacerme unha idea do sentemento das outras pessoas e tamén dos fundamentos teóricos tanto da RBU como de conceptos non tan apartados como as de Traballo Garantido (que pode ser que tenha mais sentido9.
A elo me poño, sen presa, mais sen pausa.
Apertas dende o outro lado do horizonte.
Naturalmente que é necesaria unha mudanza brutal na educación.

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Tenho um amigo assim também, com o qual adoro debater justamente porque respeitamos nossos diferentes pontos de vista. Esses dias estávamos falando sobre desenvolvimentismo. Ele defendia Ciro Gomes, enquanto eu pontuava o que entendo de sua visão e por que ela é equivocada. Talvez eu faça um texto sobre a experiência. De toda forma o importante é estar aberto a entender as razões daqueles que pensam diferente da gente... Nunca se sabe quando mudaremos de ideia, pois nunca sabemos quando estamos errados.


projeto #ptgram power | faça parte | grupo steemit brasil

Nunca se sabe quando mudaremos de ideia, pois nunca sabemos quando estamos errados.

Perfeito, essa frase já falou tudo! :)

Olá! Seu post foi compartilhado no muralResteem!

É difícil achar alguém que estuda algo nem que seja pra refuta-lo.
Reforma ? Menos horas de trabalho e salários mais altos ? Todo mundo já sabe onde essa igualdade forçada sempre para: todo mundo igualmente miserável.
Na verdade a visão coletivista não funciona não funciona de forma nenhuma. Não quando é apaixonada e cega.
Infelizmente essa visão parece ser maioria porque insistem em replica-la.


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É o que eu penso também, cara. Ela parece ser "mais bondosa e honesta" mas é como um reflexo distorcido, por que jamais funciona na prática.

Exatamente